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17.3.20

Pérolas do finado Jornal do Piauí - Ovnis, por Renée Moura


Essa semana comecei uma pesquisa pro Pibic/UFPI no arquivo público de Teresina. A priori, devo analisar o antigo Jornal do Piauí, o finado JP, entre os anos de 1968 a 1972 e tentar detectar textos que tem algo a ver com a chegada da TV no Piauí. Mas não tem como passar batido por algumas coisas que aparecem por lá, desde os textos corriqueiros com um linguajar incrível dos nativos teresinenses da época ate matérias sensacionais, como a que vou transcrever a seguir.

Ainda não sei que fim teve o JP (quando achar algo a respeito, posto aqui), mas ele começa a circular por aqui em 30 de setembro de 1951 e era propriedade da empresa "Publicidade Teresinense Ltda". O diretor responsável era o jornalista José Vieira Chaves e na falta desse exercia a função Deoclécio Dantas, então diretor executivo do jornal. Em meados da passagem de 1968 pra 1969, Dantas já não aparece mais no expediente como diretor e passa a assinar somente algumas notas e uma coluna. Na época o JP custava NCR$ 0,20 no dia e NCR$ 0,25 quando era comprado com atraso. (eita... bons tempos!). As matérias nunca eram assinadas, como nos artigos e crônicas. Algumas vezes colocavam a fonte de onde retiraram a a matéria (como a que vem a seguir, que foi retirada do Jornal Estado de São Paulo). O detalhe é que naquela época não se preocupavam em fazer chamada de capa, só cortavam o texto ao meio e continuavam onde desse certo. Por isso demorei um pouco a entender a dinâmica do jornal (e começo a me incomodar profundamente lendo os jornais de hoje).

Bem, vou parar de enrolar e jogar a primeira pérola na escrita original. Não vou sacanear os escritos da galera, mas vou destacar em amarelo as partes mais "LOL" ou "WTF" e em vermelho as partes do tipo "saudade da aurora da minha infância". Vocês decidam o que dizer:

Jornal do Piauí - Teresina, 10 de dezembro de 1968

Discos Voadores Sob Debates
Manchete da capa 


A cada 2 horas, em algum lugar do mundo, é registrada a aparição de um disco voador. Isso não quer dizer que êles sejam inumeráveis, porque como voam muito depressa, vários registros podem referir ao mesmo disco. Entretanto, até agora já existem relatórios sôbre um milhão de aparições e só no Brasil, nesse ano, os discos surgiram 20 mil vêzes.

Quem afirma isso é o Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências Espaciais e a Associação Brasileira de Estudo das Civilizações Extraterrestres, que estão realizando em São Paulo, no auditório das «Fôlhas», no 3° Colóquio Brasileiro sôbre os Objetos Aéreos não Identificados e o 1° Simpósio Nacional sôbre as Civilizações Extraterrestres

O presidente das duas sociedades, Flávio A. Pereira, fêz uma longa conferência explicando que os serviços secretos de todos os países, as  «CIAs», os «007» tentam há muito tempo desencorajar os cientistas que estudam as aparições de discos. O que sucede segundo os cientistas é, que os discos são capazes de bloquear grandes redes de energia elétrica, aparecem onde querem, mesmo sôbre bases secretas de lançamento de misseis e ninguém consegue nada contra êles. Seria por isso que quem descobrisse seu segredo poderia ter informações muito importantes e, assim, os governos das 2 maiores potências do mundo estudam os discos mas em segredo, tentando evitar que os cientistas e entidades civis tratem do assunto.

Um Disco Voador, a Cada 2 Minutos
Continua Quarta Página



Apesar dessas restrições, no Brasil estão sendo estudados, catalogados e identificados e os membros das 2 sociedades que tratam do assunto entendem que já sabem bastante sôbre os «objetos voadores não identificados.

As duas associações tratam do mesmo assunto, mas enquanto a Associação Brasileira do Estudo da Civilizações Extraterrestres é a entidade pública, que congrega todos os grupos estudiosos do País e divulga o que consegue saber, o Instituto Brasileiro de Astronáutica e Ciências Espaciais é uma entidade que quase não aparece, porque pertence a ela a «comissão confidencial». Essa comissão encarrega-se de levantar em sigilo os depoimentos sôbre aparições, guardando ainda o nome das testemunhas que, muitas vêzes, não querem que nada seja divulgado, porque podem passar por lunáticos.

No colóquio, estão representados todos os grupos que tratam do assunto havendo representantes de São Paulo, do Rio Grande do Sul, de Itajubá, Belo Horizonte, Guanabara, Manaus, Araçatuba e Botucatu, num total de 30 estudiosos.

Para a Associação faz muito tempo que os discos visitam a Terra; na Bíblia, Zacarias fala em um rolo voador e Ezequiel também teria visto essas naves. Os navegadores do fim do século XV também viram discos quando singravam os mares em caravelas, mas só há pouco tempo, com a melhoria dos sistemas de comunicações, é que puderam ser identificadas as grandes ondas de discos.

A primeira - são ainda os estudiosos da Associação que falam - teria surgido em 1897, mas a mais conhecida é a de agôsto de 1947, quando em poucos meses surgiram, só nos Estados Unidos, 2 mil discos. Muita gente acreditava que o aumento das aparições era cíclico de 20 meses, e com base nesses dados houve quem tentasse identificar a procedência, verificando de que astro deveriam vir, que estivesse a 26 meses de distância da Terra. Agora, entretanto, os discos não param mais de aparecer, e por isso a teoria caiu por terra, dizem.

Entretanto, desde as aparições de 1987 até hoje, os discos teriam mudado muito. Naquele tempo êles tinham rodinhas externas, houve alguns que se acidentaram, mas atualmente são homogêneos, quase todos iguais e muito mais evoluídos, a ponto de «acarretarem uma porção de rupturas com a física moderna». Assim, vão contra a lei da gravidade, a lei da inércia, contrariam a teoria do atrito com a atmosfera a grande velocidade, fazem manobras bruscas de mudança de rum que são consideradas impossíveis. E «desafiam a barreira energética atualmente conhecida, usando a energia fenomenológica, a energia radiante de que o espaço está repleto».

COMO SÃO OS TRIPULANTES?

Os estudiosos não concordam quando às intenções dos tripulantes dos discos; há quem ache que êles são hostis, já que houve casos de rapto e ataques, mas êstes casos são raros. A maioria concorda que as intenções são pacíficas, já que em caso de perigo os extraterrenos usam armas que paralisam mas não matamSe as intenções fôssem hostis, êles já teriam tomado a Terra, porque são capazes de apagar a luz de grandes áreas, de paralisar qualquer pessoa, de gerar campos de fôrça, e não se preocupam com nossas armas.

Depois de estudar milhares de relatórios e separar as «aparições verdadeiras dos depoimentos falsos», os estudiosos chegaram à conclusão de que os tripulantes são humanóides, que divergem entre si em estatura, côr, e também em comportamento. Entendem, entretanto, que as diferenças podem ser como as diferenças entre o branco, o negro ou o amarelo. Só na Suécia é que foram vistos monstrengos descendo dos discos. Isso foi em 1954Na França, ninguém sabe por que razão todo viajante interplanetário prefere descer de escafandro. Mas, no resto do mundo êles aparecem como são, isto é, verdes, brancos ou escuros. Têm desde 2 metros de altura até os mais baixinhos, de 1,40 metro. Na América do Sul, também por motivos desconhecidos, quem tem descido dos discos são tripulantes grandões, com 2 metros de altura.

Apesar de saber tudo isso, há ainda 3 perguntas não respondidas: de onde vieram, como vieram e o que querem.

Os membros da Associação entendem que ainda demora para se ter as respostas. Um dêles afirma que, quando o problema for resolvido, a ciência moderna pode ser destruida, porque "é uma ciência de efeitos e não causas e tudo o que se fêz até agora em astronáutica foi obra da tecnologia e não da ciência".

Somente na nossa galáxia, dizem os entendidos, existem 50 bilhões de estrelas - 8 por cento das quais têm um sistema planetário. Dêsses sistemas, pelo menos 3% têm condições para que neles haja vida. Por isso, afirmam, é muito pouco provável que o homem esteja sozinho no Universo e que seja a civilização a mais adiantada. Por tudo isso, os estudiosos reunidos no 3o Colóquio não têm dúvidas de que os discos existem, querem sòmente mais detalhes, mais estudos para saberem exatamente quem vem e o que querem. E enquanto os tripulantes dos discos não se dignam a explicar, êles continuam estudando. (do Jornal Estado de São Paulo)


Renée Moura

Via reneemoura.blogspot.com
Em 19 de março de 2010

19.2.16

CAUIM (1978) - Ednardo






01 - C'lareou - Ednardo - 00:00
02 - Amor de Estalo - Ednardo/ Brandão - 07:03
04 - Duas Velas - Ednardo/Brandão - 09:50
05 - Rendados - Ednardo/Tânia Araújo - 11:53
06 - Rasguei o Teu Retrato - Cândido das Neves, o Índio - 15:55
07 - Cauim - Ednardo - 18:50
08 - Bloco do Susto - Ednardo - 24:06
09 - É Cara de Pau - Ednardo/Brandão - 26:20
10 - Terezina 40 Graus - Ednardo - 28:48
11 - Canção dos Vagalumes - Ednardo - 31:13



[...]



Terezina 40 Graus | Ednardo 


Troca que troca que troca
Lembranças
Contra corrente do rio,
Vai vapor
Que também sem ti
Posso navegar
E cada instante de rio
Me afasta
De cada saudade do mar
De cá, dá saudade do mar



[...]



Disco: CAUIM
Gravadora: WEA / Warner
Lançamento: 1978 (LP- BR 36.074) - 2001 (CD Warner Music)
Direção Artística - Marcos Mazola
Produzido por Guti Carvalho
Técnicos de Gravação - Carlos Duttweller / Vitor
Estúdio de Gravação - Transamérica - Rio de Janeiro
Mixagem - Guti Carvalho / Carlos Duttweller / Ednardo
Assistente de Produção - Gastão
Auxiliares de Estúdio - Franco / Cláudio
Capa e Desenhos - Brandão
Foto da Capa - Mario Luiz Thompson
Foto da Contra Capa - Francisco Régis
Arte Final - Ruth Freihof 
Arranjos - Ednardo / Pepeu Gomes / Wilson Cirino
Violões - Ednardo / Pepeu Gomes / Wilson Cirino
Violão Sétimo - Waldir (Novos Baianos)
Guitarra Acústica - Pepeu Gomes (Novos Baianos)
Bateria - Jorginho (Novos Baianos)
Contra Baixo - Luiz Carlos Tolentino - Ife
Baixo Tuba - Teles
Percussões - Sérgio Boré / Jorge José

18.2.16

RUMO NORTE (1979) - Irene Portela






01 - De São Luiz a Terezina - João Do Vale & Helena Gonzaga - 0:00
02 - Sanharó - João Do Vale & Luis Guimarães - 3:16 
03 - Sabiá - João Do Vale, Luis De França & José Cândido - 5:33 
04 - Nécio Costa - João Do Vale - 7:20
05 - Passarinho - João Do Vale & José Lunguinho - 10:23
06 - Fogo No Paraná - João Do Vale & Helena Gonzaga - 13:33
07 - Lua Peixe - Irene Portela - 17:14 
08 - Até Quando - Irene Portela - 19:18
09 - Dia De Festa - Irene Portela - 21:31
10 - Alcântara - Irene Portela - 23:46
11 - Folha Verde - Ricardo Gouveia & Irene Portela - 25:13
12 - Na Hera Dos Muros - Irene Portela & R. Parreira - 28:09
13 - Guerreiro - Irene Portela - 31:12 



[...]



DE SÃO LUIZ A TEREZINA | Irene Portela 
Composição de João do Vale & Helena Gonzaga 


Peguei o trem em Teresina
Pra São Luís do Maranhão
Atravessei o Parnaíba
Ai, ai que dor no coração

E a trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa

Bom dia Caxias
Terra morena de Gonçalves Dias
Dona Sinhá avisa pra seu Dá
Que eu tô muito vexado
Dessa vez não vou ficar

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa

Boa tarde Codó, do folclore e do catimbó
Gostei de ver as cabroxas de bom trato
Vendendo aos passageiros
"De comer" mostrando o prato

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa

Alô Coroatá
Os cearenses acabam de chegar
Meus irmãos, uma safra bem feliz
Vocês vão para Pedreiras
Que eu vou pra São Luís

O trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa

Peguei o trem em Teresina
Pra São Luís do Maranhão
Atravessei o Parnaíba
Ai, ai que dor no coração

E o trem danou-se naquelas brenhas
Soltando brasa, comendo lenha
Comendo lenha e soltando brasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa

Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa
Tanto queima como atrasa



[...]



Depois de mais de dez anos de carreira, sem conseguir gravar, foi descoberta pelo produtor Marcus Vinícius, como compositora, intérprete e diretora musical do espetáculo "A missa do vaqueiro". Em 1979, lançou pelo selo Marcus Pereira seu primeiro disco, "Rumo norte", interpretando diversas composições de sua autoria, entre as quais "Lua peixe", "Dia de festa", "Guerreiro", além de diversas composições de João do Vale, como "De Teresina a São Luís (trem do Maranhão), em parceria com Luís Gonzaga, "Sabiá" e "Fogo no Paraná". Via Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira.

21.1.16

CHAPADA DO CORISCO (1979) - Clodo, Climério & Clésio




Lado A

1. Rixa [Clodo/Climério] 00:00
2. Flor do Coqueiro (Pita) [Clésio/Clodo] 02:10
3. Morena [Naeno] 05:27
4. Chapada do Corisco [Clodo/Climério] 10:01
5. Dia Claro [Dominguinhos/Clésio] (Part. Esp.: Dominguinhos) 12:55

Lado B

6. Oferenda [Clésio/Clodo/Climério] (Part. Esp.: Fagner) 17:40
7. Modo de Ser [Clodo] 20:48
8. Timom [Clésio/Climério] 24:13
9. Enquanto Engoma a Calça [Ednardo/Climério] 28:31
10. Revelação [Clésio/Clodo] 31:45

(...)

CHAPADA DO CORISCO | Clodo/Climério

eu me conheço
eu não me arrisco
eu não mereço 
ficar longe da chapada do corisco

é que a cidade é verde
é que ela me amadurece
é que eu vim de lá menino
e nada me acontece

quem sabe o que quer
fuma qualquer cigarro
traça qualquer pinga
tira qualquer sarro

quem não sabe sabe
não conhece bem
quem ensina o cabe 
não cabe ninguém

(...)

TIMON  | Clésio/Climério

o Timon não tá no barco
tá na terra
do outro do rio eu chego lá

vou ver meu amor

entre mágoas que esse rio não separa
corre essa canoa embarcação
pra ver meu amor

(...)

Segundo álbum dos irmãos piauienses ClodoClimério e Clésio. Lançado pelo selo Epic da gravadora CBS, cuja direção artística estava sob o comando de Fagner. O LP se chamou Chapada do Corisco (título de uma das faixas, assinada por Clodo e Climério) e contou com a participação dos músicos Manassés, Abel Ferreira, Dino das 7 Cordas, Tuti Moreno, Dominguinhos e o próprio Fagner, dentre outros. Estão presentes no disco as faixas "Revelação", sucesso na voz de Fagner, e "Timon", regravada por Marlui Miranda em seu álbum "Revivência". A capa do LP foi criada por Fausto Nilo, juntamente com Januário Garcia.

2.12.15

SÃO PIAUÍ (1977) - Clodo, Climério e Clésio



Lado A

01 - 00:00 - A noite amanhã o dia (Climério)
02 - 03:31 - Cebola cortada (Petrúcio Maia/Clodo)
03 - 06:48 - Cantiga (Clodo/Clésio)
04 - 09:35 - Conflito (Petrúcio Maia/Climério)
05 - 11:22 - Folia ou pressa (Clésio/Augusto Pontes)
06 - 14:02 - Ilha azul (Clodo)

Lado B

07 - 16:26 - Zero grau (Clésio/Climério)
08 - 20:12 - Palha de arroz (Climério)
09 - 24:06 - Cada gesto (Clodo)
10 - 27:26 - Céu da boca (Clodo/Climério)
11 - 29:45 - Nudez (Clésio/Clodo)
12 - 33:25 - São Piauí (Bê/Climério)

(...)

ILHA AZUL | Clodo

quando eu saí
lá do Piauí
caboclo novo que nem vaquejava ainda
eu curti muito o Rio Parnaíba
levando toco de madeira e balsas
até que um dia eu vim parar aqui
nos olhos verdes da mineira clara
nesta cidade
esta maquete viva
feita de sonhos de um herói sem nome

um dia
quem sabe noite
de um mês qualquer
a gente grita laços fora e vai
falar da nossa vila
nossa ilha azul

(...)

PALHA DE ARROZ | Climério Ferreira

o rio beirando a rua
num arremedo de cais
o vapor de Parnarama
chegando de Palmeirais
o velho homem do porto
de olhos postos no rio
sentindo todo vazio
de sua pobreza em paz
Maria boca da noite
na Pensão Familiar
tem nos olhos de manhã
a luz clara do luar
cadê teu povo noturno
teu povo maior maria
teus operários da noite
nas oficinas do dia
ali onde habitou
a rua cheia de tédio
hoje mora outra dor
feita de casa e de prédio
já nem sei se essa rua
realmente existiu
ou se foi obra
de algum bêbado
num acesso de poesia
vendo no rio
outro sonho
mais refletido que a lua
inventou um cais tristonho
e os habitantes da rua
vendo no rio
outro sonho
mais refletido que a lua
e inventou um cais tristonho
e os habitantes da rua

(...)

SÃO PIAUÍ | Bê e Climério Ferreira

vem comigo menina
vem comigo aqui pra São Paulo
pra são pulo! – vem pra São Piauí
aqui tem um ar de Europa
um cheiro novo de África
tem operário a galope
sob o aboio da fábrica
tem boi de ferro e fumaça
na massa deitando a morte
de sorte que o centro-sul
desse estado dá no norte
no asfalto tem uma pedra
tem uma pedra no asfalto
que de repente num salto
se desfaz na boca
o beijo que se desprega
da nossa garganta louca rouca
poluída de calor
vem pra São Piauí
que a vida começa aqui
no viaduto do chão
por que não?
ou no riacho do chá.


(...)

Clodo, Climério e Clésio
LP São Piauí – RCA Victor – no. 103.0208 – 1977
Gravado no estúdio A da RCA Victor em São Paulo
Direção Artística – Osmar Zan
Coordenação artística e direção de estúdio – Ednardo
Arranjos e regência – Mário Henrique
Participações de Amelinha (vocal em “Cada gesto”) e Robertinho de Recife (guitarra e viola)

23.11.15

ARNALDO ALBUQUERQUE [2]


O sujeito era tão intenso que uma crônica ou duas não dão conta da sua peregrinação num destino que carregava cravado no umbigo. Sua história nos quadrinhos e no desenho animado deixou herdeiros que reconhecem a filiação e uma tese de mestrado faz uma análise do seu lado marginal à marginalidade.

Fizemos um jornal na década de 1970, que circulou apenas duas vezes, mas nomeou uma geração: “Gramma”. E as duas capas eram dele. A do número um, aqui reproduzida, é uma obra prima. No nome Gramma detalhes podem ser acompanhados com uma lupa de cenas proibidas na nudez com erotismo digno de um Wolinski. Entre às cenas de sexo, o coração de Jesus pende do meio do primeiro M com a inscrição blasfêmica “o coração de Jesus era de pedra” e na última perna desse primeiro M a própria face do Cristo contrasta com o inferno que queima a lascívia do outro M. Mas no conjunto das letras o mal parece vencer o bem da religião. As outras letras parecem vencer o M do Cristo, mas é nele que se pode ler “a maior curtição”. O desenho central parece um autorretrato que arranca o coração do peito num rasgo tão grande que expõe as vísceras abdominais de forma chocante. Singelas flores emolduram o quadro.


Essa capa faz prescindir o conteúdo do jornal na temporalidade. É o que fica. É a transgressão que nos representa, toda uma geração, num desenho dele. Na mesma época era fundado o Charlie Hebdo na França, e aqui na terra “O Pasquim” já era reconhecido por dialogar com a contracultura. Era no desenho do Arnaldo que nós gritávamos, no estado mais atrasado da federação brasileira, que o sertão entrava no cenário da contracultura.


E ele continuou desenhando. Emplacou alguns cartuns n’O Pasquim. Fez ilustrações para livros de contos, como as que publicamos aqui. No traço a violência e o erotismo. Duas formas de protestos incontestes.


Mas foi agora, já depois de sua morte, que tomei conhecimento, pela internet, de um grande e futurista desenho. Um felizardo declara que ganhou o desenho do próprio Arnaldo em 1982. Em um cenário futurista, que lembra Metrópolis do Fritz Lang, prédios de Teresina e Timon (cidade fronteiriça do Maranhão) fazem um paredão às margens do Rio Parnaíba. O leito do rio secou e um fiapo de esgoto corre por baixo da Ponte Metálica (símbolo da cidade, quando ainda não tinha a ponte estaiada). Premonição do artista?


Depois silenciou. Parecia que a obra tinha ficado pronta. Só caminhava de casa para o botequim do meio do quarteirão. Tomava uma ou duas pingas. Bastavam. E o caleidoscópio do artista girava num mundo que ele não quis habitar por ter sempre se mantido à margem. Ele só saiu do nosso campo visual, mas continua à margem. Agora na terceira margem do rio, como no conto do Guimarães Rosa.

2.6.15

TERESINA: NA PRAÇA PEDRO II




Foi em 1974. À tardinha, tínhamos passado por alguns lugares bem conhecidos de Teresina. O tempo, porém, passou rápido como o tênue fio que separa a vida da morte. Quando demos fé, já era tarde da noite. Nossa conversa, em pé, encostados à mureta da parte mais alta da Pça Pedro II da velha Teresina cansada de guerra, naquela divisão social e preconceituosa que separava, por uma rua, as duas partes da praça, uma a das meninas de nível social mais alto ou bem alto, e a outra, em que estávamos, que dava para o antigo Quartel de Polícia, lugar das meninas pobres, das então chamadas curicas.

Evandro e eu estávamos ali, olhando para uma praça quase vazia, que parecia abandonada por seus frequentadores. Mas, esse vazio pouca diferença fazia para o dois jovens irmãos, eu, um ano mais velho que ele, recém-chegado do Rio depois de dez anos sem ver meus pais. 

Como de costume, nossas conversas se voltavam para o futuro e para um futuro muito colado às coisas da cultura, de livros, de sonhos e projetos que pretendíamos concretizar com o passar do tempo. Me dizia o mano Evandro: “Chico, a gente tem que fazer alguma coisa sólida no campo literário. Isso é coisa séria, exige muita leitura, preparo, lutas, combates e principalmente estudos. É preciso produzir, irmão! Porém, tem que ser alguma coisa que valha a pena, que tenha valor, que perdure e deixe marcas".

Naquela época eu já começara a escrever pra jornais de Teresina e, no Rio, mal acabara de me graduar em Letras. Evandro tinha já manifestado inclinação para a poesia. Fizera poemas que eu não conhecia. Já estava formado em Direito e era recém-casado. Já tinha passado pela militância universitária. Fora preso, durante alguns meses, pela Ditadura Militar. 

Essas lembranças que alinhavo agora vêm a propósito da notícia pesarosa que hoje me chegou de um telefonema de minha irmã, a Maria Cândida, me transmitindo aquilo que jamais esperaria saber tão prematuramente, a de que Evandro faleceu nesta madrugada num hospital de Fortaleza, para onde há alguns meses foi se tratar de uma doença que dele exigia um transplante. Operaram-no. Resistiu à cirurgia. Estava bem, me informara minha irmã. Contudo, três meses depois, não sei ao certo, passou mal e veio a falecer ao sessenta e cinco anos. Seu corpo será trasladado de avião para Teresina, onde vai ser velado e sepultado. É o terceiro irmão que perco nesta vida. Estou arrasado por dentro, mesmo tendo que confessar que, tempos atrás, depois da morte de papai, guardara alguma mágoa dele por razões que hoje já não significam muito ou nada mesmo. O sangue fala mais alto. 

Na realidade, nunca brigamos de verdade. Nas vezes que estive com ele, quando ia a Teresina, sempre nos tratamos bem. Ele tinha um temperamento alegre, não dava mesmo para ter raiava dele. No ano passado, quando fui lançar meu livro As ideias no tempo, na Academia Piauiense de Letras, ele lá comparecera no auditório da APL. Me ouviu expor sobre meu livro e comprou um exemplar que lhe autografei. Eu estava com o meu filho mais velho, o Neto. À noite, do mesmo dia do lançamento, levou-nos ele no seu carro a um passeio por Teresina. Fomos a um Shopping, tomamos sorvete. Conversamos e rimos muito da vida e dos homens. Evandro era espirituoso, inteligente, culto, lido, escrevia bem e era contundente. Não lhe faltava uma boa dose de sarcasmo contra mediocridades. Tinha boa leitura no campo sociológico e argumentava com muito vigor intelectual. Grande admirador da alta literatura universal. Seu espírito de autocrítica talvez o tenha refreado a produzir mais literatura, no conto e na poesia. Leu também o que era bom e tinha projetos de escrever mais ficção. Tinha especial talento para o jornalismo. Uma vez, fundara uma revista, que durou pouco tempo.

O que nele mais ressaltaria, neste momento de dor, era a sua veia crítica, o seu sarcasmo, como se rabelaisianamente quisesse rir das nulidades e de si mesmo. Naquele último encontro que tive com ele, antes de descermos do carro meu filho e eu, estava selado pelo destino o meu convívio na vida com ele, o qual se dava no geral sempre em horas tão breves e fugidias, mas cheias de risadas, de relatos engraçados sobre homens, fatos, situações familiares num tom de voz que lhe era inconfundível, sobretudo porque costurado pela ironia dos que vivem a vida pelo instante que passa. 

Nos meus arquivos guardo dele uma carta de 1990, um recorte de jornal de Teresina com um poema dele juvenil à maneira de Augusto dos Anjos (1884-1914) e uma crônica/conto autobiográfico em que o personagem principal é a figura de papai num momento difícil da vida do grande jornalista. 

O melhor período que passei com ele foi na infância e início da adolescência. Evandro adorava que lhe contasse narrativas de livros que eu tinha lido. Naquela época de ouro e de inocência éramos muito amigos, nos amamos e era um prazer estar com ele. Um outro momento de grande emoção foi aquele em que lhe pude ajudar de alguma forma. Foi quando ele, tendo feito vestibular para Direito, não passou na primeira tentativa. Me dissera chateado que na prova de inglês havia se dado mal. Aqui do Rio - já vão tantos anos! -, preocupado com a situação dele, corri à Embaixada Americana. Conversei com o Departamento Cultural e pedi ajuda a uma gentil pessoa que me atendeu. Eu procurava material para o ensino do inglês. A assessora me veio então com um pequeno e atualizado livrinho para o ensino do inglês e destinado a brasileiros. Contente fiquei e remeti logo pro Evandro o volume. Na segunda tentativa, ele fora aprovado para o curso de Direito. Numa outra ida minha a Teresina, me confidenciou que já lia regularmente o inglês e me agradecera pelo envio daquele livrinho.

Se um profundo descompasso temporal houve, até agora, entre ele e mim no que concerne a uma intimidade maior e a um estreitamento mais radical de nossa amizade e de nosso afeto, e isso tem sido comum entre meus familiares irmãos, irmãs e parentes próximos, talvez tenha, em grande parte, sido devido ao meu afastamento por  tantos anos, com poucas idas ao Piauí, ou porque talvez isso seja apenas uma questão de temperamento mesmo entre os familiares. No entanto, ainda quero acreditar que, no fundo, há respeito e bem-querer nesta numerosa família. Creio ainda na amizade e amor que correm no sangue comum.

No verbete do utilíssimo Dicionário biográfico de autores piauienses de todos os tempos, de Adrião Neto, constam estas informações bibliográficas sobre meu irmão:

SILVA, Evandro Setúbal da Cunha e. n. 14-04-1947 – Amarante (PI). Contista e cronista. Formado em Direito. Fiscal do Ministério do Trabalho. Bibliografia: Ensaios Políticos (1981) e Relações de Empregos (1984). Participou: Coletânea Poética (1987) e Antologia Poética de Cidades Brasileiras (1988).



Cunha e Silva Filho
em Portal Entretextos

28.10.11

TERESINA, Gregório de Moraes


Mangueirais, minha velha Teresina
O povo alegre, sorridente, vivo
O Mafuá num batucar festivo
Saudade, mestra e mãe que amar ensina

Falar de minha terra me fascina;
Meu Deus, é tudo um eternal motivo
O Parnaíba marulhando esquivo
O Barrocão; a luz da lamparina...

Correr, subir veloz num oitizeiro
Tentar erguer meu papagaio primeiro
Lembrança das casinhas. Há quem esqueça?

Vivi no meu desterro esta lembrança
Ó saudade do tempo de criança
Dos maternais beijinhos na cabeça.


Gregório de Moraes
em Auroras Perdidas
Rio de Janeiro: 1970