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26.12.16

Os ratos, Graça Vilhena


há um lugar
onde moram os ricos
e outro os pobres

porém há um povo
que mora em qualquer lugar
da cidade generosa
com seus chafarizes e sombras
bancos e marquises

dele nada sabe o rico
nem o pobre
só os ratos que engordam
e correm pelos domingos vazios
do centro da cidade


Graça Vilhena
em PEDRA DE CANTARIA
Teresina, Nova Aliança e Entretextos, 2013

20.12.16

Cidade Frita, qual teu itinerário nesta tarde? um epílogo, por Chico Neto








Cidade Frita, qual teu itinerário nesta tarde? É certo que girarás no espaço, margeando o abismo, com teu Caronte Cabeça de Cuia, um dos guias neste inferno. Mas por quais caminhos do passado, do presente, do futuro teus pés escaldantes irão nesta tarde? Em quais poemas ressurgirá o choro que tua beleza uma vez provocaste? Aqueles corpos apaixonados que deitaram no leito de teus rios para nunca mais surgirão em que fotografia? Cidade Frita e os teus. O calor purifica feito água, faz esquecer e suar tudo quanto carregamos de memória, vida, morte. Mas, por um artifício, tu permaneces com tua penca de gente, de praças, de ruas, de momentos. 

Teu artifício: Cidade Frita.



Texto de Chico Neto, que acena no vídeo
Imagens de Rodrigo M Leite, nas
Torres da Igreja de São BeneditoAlto da Jurubeba, Teresina - Piaui


24.11.15

ADEUS, MINHA BELA TERESINA




Estou sendo saudosista com este artigo, com absoluta certeza e, também, com absoluto prazer. O centro de Teresina, minha bela e querida cidade, está ficando desfigurado, feio, cheio de vazios que a fazem sem vida. Semana a semana uma casa de sentido histórico vai ao chão, sem pena e sem dor. E nós ficamos mais pobres de identidade, de sentidos, procurando no pensamento ao menos uma resposta para tanta insanidade. Claro que existem milhares de respostas, mas nós não queremos escutar as respostas que inventam. A nós, amantes dessa cidade e de sua história, gostaríamos mesmo era que ela continuasse com seus casarões particulares, de onde ela começou e de onde gerou sua gente, suas histórias e nossa herança cultural.

Quando eu fui diretor de arte da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, da Prefeitura de Teresina nos anos 90, precisamente de 1993 a 2000, foi feito um levantamento completo de todas as casas, monumentos e prédios históricos da cidade. Um trabalho primoroso feito com todo rigor e dentro dos parâmetros de arquitetura e urbanismo. Lembro que o profissional contratado para o trabalho o fez, muitas vezes, durante a noite para não vazar exatamente o seu trabalho, pois serviria para catalogação e preservação histórica. Milhares de fotos foram batidas das casas, prédios e monumentos da cidade, o que gerou uma documentação guardada pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves a sete segredos. Coitados de nós. Quando a documentação foi para a Prefeitura de Teresina as casas começaram a cair de uma por uma. Longe de mim qualquer ligação, mas a coincidência foi incrível. Lembram? O centro de Teresina começou a despencar de uns dez anos para cá.

O que nos deixa tristes e impotentes diante de tanta barbárie pela ganância especulativa, é a indiferença de muitos. A gente escuta de pessoas formadoras de opinião de que Teresina é novinha em folha, portanto, não tem ainda memória histórica. Para que conservar casas velhas, prédios velhos caindo aos pedaços apenas de 150 anos? Vai ter memória histórica quando, então? Dessa forma, infelizmente, nunca. Outros, usando de uma bobice sem tamanho a taxam de cosmopolita. Cidade de passagem, onde o novo mais novo do mundo globalizado está aqui no outro dia. Somos antenados mais do que os outros. É tanto que não damos valor ao que é nosso: ao nosso cantor e compositor, ao nosso bailarino, ao nosso artista plástico, ao nosso teatro, aos nossos literatos, ao nosso futebol, ao nosso bumba-meu-boi, ao nosso folclore. Claro, estamos derrubando tudo. Queremos tudo no chão e que nada se levante, só assim podemos louvar e amar ainda mais o que é do outro. Falta a muitos a percepção de que o outro guardou, e vende caro a nós mesmo aquilo que é deles e que eles louvam e amam.

O exemplo que nos deixa de cabeça baixa está em nossa própria região.Vamos aos estados do Maranhão, onde o centro histórico está totalmente preservado e faz um bem danado você andar à noite e ver dezenas de barzinhos abertos em frente a belos prédios e casarões, onde artistas encantam e cantam seus ritmos e folguedos: O Estado de Pernambuco, com seu Recife velho fazendo um contraponto com o Recife novo: A Bahia, onde o pelourinho destila história e cultura por seus corredores pintados de cores fortes e iluminados, e o Ceará, bem aí, onde o Complexo do Dragão do Mar faz convergir em um mesmo espaço a diversidade cultural em todos os sentidos. Nós, aqui não. Somos os tais, os maiores do mundo, não precisamos de história, muito pior de identidade cultural, ainda mais de simples casarões e prédios velhos a atrapalhar o progresso! Progresso que vem em quatro rodas - e tome carros em lugar de gente. Daqui a pouco Teresina será um grande estacionamento. E nós, que gostamos tanto dessa cidade, estaremos enjaulados e condenados a viver de lembranças. Lembranças? Não, para ser melhor, de banzo. Nunca mais veremos Teresina nenhuma.



Ací Campelo,
em 27 de julho de 2009
via blogue do autor

28.7.15

PESCARIA ÀS SEIS DA TARDE NO BALÃO DA IGREJA DE SÃO BENEDITO, por Rubervam Du Nascimento



Um rio nos separa na pista de danças luzentes e procissões de veículos rio não de águas de carros. Na cidade de Teresina, tem um igreja cuja frente, fica voltada para uma avenida, que juntando-se com outras pequenas ruas no mesmo perímetro, vai dar no rio Parnaíba, - o maior rio da bacia hidrográfica da região Norte do Brasil, responsável pela separação geográfica entre os estados do Maranhão e do Piauí, e, o fundo, vai dar para outra artéria, considerada a mais elegante e luxuosa da nossa capital, - a Avenida Frei Serafim. Nesse ponto, - tanto pela frente como pelo fundo da igreja, - outrora, o "trottoir" (paqueração, pescaria) de proxenetas, gays, lésbicas, drag queens, travestis e principalmente prostitutas era intenso. A procissão de veículos motorizados era maior que a procissão de andores, mas dentro desses veículos estavam no volante - obviamente motoristas, - que não estavam ali para pescar luzes de holofotes de carro nem muito menos  pistas de rolamentos de veículos, eles estavam ali para pescar gente de rostos, carne, osso e espinha.



Rubervam Du Nascimento
em Guia Turístico Afro-cultural da Região Meio-Norte; Piauí e Maranhão
de Antônio Julio Lopes Caribé


1.12.13

TERESINA




a vida se inventa do barro
barro que faz o homem que faz o tijolo
que faz a casa que vive o homem
barro da beira do poty e do parnaíba
que irriga a cidade que com seu barro polui o rio
teresina
da cidade plana de poty velho
ao paliteiro globalizado do jóquei
do centro infestado de piratas
ao sítio das árvores petrificadas
um feixe de fibras óticas sai do barro
e se liga em quem tá em contato com torquato
míssil ácido no olho do mundo.
teresina
a certeza certeira que o homem se inventa
entre a canela e o caju.



Chacal 
the . 27 / 11 / 04

11.11.13

TER EX INA




Centro da cidade:
movimento nas calçadas
sem camelôs.

Caldo de cana com pastel de carne
do Frigotil na lanchonete
do chinês.

Teresina não tem
onde cair 
viva. 



Nathan Sousa
enviado pelo autor

6.11.13

CANTEIRO DE OBRAS 2013, Renata Flávia


e a dança foi cancelada o som desativado. a polícia não bateu mais na porta e a graça foi posta a baixo. desmantelaram o coração do centro, de todos os nervos de lembrança só restaram escombros, pé de manga, estacionamento. desinstalaram a poesia e o canteiro foi esvaziado e aos poucos as marretas terminaram a porradas os trabalhos. duros golpes não demoraram a transformar em sucata o casarão antigo das nossas primeiras emboscadas – porrada! o coração do centro morto agoniza na sua última morada. porrada.

Renata Flávia
enviado pela autora

5.11.13

CENTRO NORTE, Rodrigo M Leite


no puta boteco para os rumos do verdão
o tempo está parado em um relógio sem pilhas
a vida ferrugem do balcão no fim
aos poucos sendo vencida

os velhos não se olham mais nos olhos
nas paredes mulheres desbotadas com garrafas de catuaba guaracy
fazem moças sexo ágil de fora
perderem o sentido

a alma do bar está acesa
em uma lata de sardinha com querosene
o coração dos homens lá dentro
vai sem muita pressa


Rodrigo M Leite
em A Cidade Frita
Teresina: 2013, versão atualizada

22.10.13

P2, por Rubervam Du Nascimento


Há uma praça
no centro da cidade

que fica acesa
quando engole a tarde

reparte seus fantasmas
com quem passa

namora em silêncio
os segredos do tempo

sobe no coreto
ouve a retreta

dorme no colo
em "P2" (livro sobre a Praça Pedro II)
Teresina: Livraria e Editora Corisco Ltda, 2001