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4.5.22

Pra Acender seu Coração, por Chico Castro



Não sou quem vc pensa, meu rapaz!
Vc não nem me vê
Kd vc?
Tenho um pix, sou mix...
Já fui pó de giz...
Agora
Faço as unhas, corto cabelo
Faço massagem, selagem, tiro os pelos
Boto a bunda pra rebolar...
E vc nem olha!
Se até um cego me vê passar!
Sou mulher...
Gosto de gracejo
De Catherine Deneuve...
Compro roupa nova
Da moda,
Um biquíni cavadão...
Faço festa de São João
Quando vejo vc chegar...
Por que não posso me rebolar?
Pra chamar sua atenção?
Qualé, meu irmão, tem disso, não..
Joga essa prosa fora...
Não sou submissa,
Sou artista...
Pra acender seu coração,
Faço festa de São João
Um biquíni cavadão
Quando vejo vc passar
Pra chamar sua atenção...



Chico Casto, 05.02.2022
Enviado pelo autor


31.3.21

"o sem nome", Chico Castro


o sem nome
não tem olhos, mas vê
não tem pés, mas caminha
não é mago, mas adivinha
não tem boca, mas come.
o sem nome
será um sujeito, um predicado
uma oração sem aposto
qual será a cor do seu rosto?
será um ovni, um asteróide,
o super-homem?
será um substantivo, um verbo
um pronome?
por certo não é
um artigo qualquer.

o sem nome
não sabe o que quer
uma flor que se consome
no olhar de uma mulher.
O sem nome é um risco
um salto no abismo
Será Judas, Jesus ou Prometeu?
Uma maçã no meio do paraíso
A Eva que Adão comeu.

o sem nome
é ouro, mas não reluz
uma miragem no deserto
um sol de costas para a cruz.

O sem nome
É o rei do vai-e-vem
Sem nada ter, tudo tem.

algo que ninguém imaginaria
uma casa, um mar, uma floresta
um lugar onde nem o vento passaria.

o sem nome
entra sem bater
é um querer sem querer
sem pedir por favor
o nome do sem nome
é o amor.


enviado pelo autor

25.3.21

Mãos Dadas, Chico Castro


O amigo do amigo do meu pai
É amigo do amigo do meu amigo
Pai do amigo do meu amigo
Amigo do meu pai meu amigo
É amigo do meu pai meu amigo 
Meu amigo meu pai meu amigo

O amigo do amigo do meu pai
Meu amigo meu pai meu amigo
É amigo do meu pai meu amigo
Amigo do meu pai meu amigo
Pai do amigo do meu amigo
É amigo do amigo do meu amigo
O amigo do amigo do meu pai.


enviado pelo autor

18.3.21

Estranha Formosura, por Chico Castro, Ronaldo Bringel & Roraima




Estou cheio de ternura 
Meu coração de poesia
Vai andando pelas ruas
Um pé na solidão
Outro na literatura

Estou grávido de aventura
Quero o silêncio da sala
A majestade da lua
Um olho na razão
Outro na magia pura

Que estranha formosura
Aos caprichos de uma dama
Dei meus votos de candura
E navegamos como plumas muito além
Das escrituras

Meu coração de poesia
Vai andando pelas ruas...


1º lugar na categoria não estudante do Festival Chapadão (2008)
Enviado por Chico Castro

9.4.20

Chico Castro responde ao poema "Vermelha Vila Vagarosa", de Rodrigo M Leite


Em 27 de agosto de 2013, enviei por e-mail, ao poeta Chico Castro, o seguinte poema:


Vermelha Vila Vagarosa

entre cacarejos dos galos vizinhos
dança metálica das folhas secas no átrio
alto-falante a caminhonete anuncia
ESTREIA DO CAMPEONATO DE FUTEBOL MUNICIPAL
aderimos ao musgo
lesmas de uma antiga parede esverdeada que somos
quintal da casa empestada de netos
frutas airosas, inocentes desejos
tudo bem
um pouco mais de velocidade
meninos afoitos ao rio
redes com renda de crochê balouçando nos alpendres
movimentos despropositados da argila manhosa, dos aguapés chapados de erva:
num aluvião onírico
todos executamos ritmo das águas


A resposta do poeta, em verso:


muito bacana
a composição
linhas retas corações tortos
cidades cheias de corações mortos

a vermelha é foda
eu, nonato, mestre dim
a lua o sol a esquina
os anjos de mestre dezim
a luz do arrebol

a poesia é bobagem pura
coisa de malandro ocupado
não há remédio para a sinecura
ofício para quem vive desligado

e ponto final quando ainda não morreu a vírgula
uma exclamação que não interroga
um verbo que não vacila
uma reticência que não derroga

Chico Castro
Petrópolis, em 28 de Agosto de 2013

3.2.16

"Lucidamente", Chico Castro




Lucidamente
te encontrei Help pela cidade
foi a maior felicidade
a maior camaradavagabundagem.

Sua avemente
você me deixou
show
show
muito louco
louco
louco.

Anda menina ama
deixa o fio teu riso passar
passarinhar passarinhar passarinhar.

Suavemente
luciacidamente
eu voo.



Chico Castro
em O Livro da Carona 
Teresina: Edição do autor, 1994

28.1.16

CARTÃO POSTAL 80, Chico Castro




Espirrei:
Lixo da mais pura aspirina.
Sou:
De papel passado em cartório,
que tal?

Um homem urbanizado
entre prédios, luzes e avenidas
carros-galos
som sobre som sobre sonho
ufa:
não me ouço mais
nem gritando comigo mesmo.



Chico Castro
em O Livro da Carona 
Teresina: Edição do autor, 1994

12.1.16

TERESINA VISTA DA COROA DO RIO PARNAÍBA, Chico Castro


da coroa do parnaíba
vejo teresina se mexer
indiferente flor na ponta de um fuzil
com todas as suas dores e seus apitos
vejo teresina se mexer
da coroa do parnaíba
depositário de tensões da semana:
peladas, barracas, flertes, putas
e da polícia que impede
os bêbados morrerem mais cedo
como se a vida que teresina
face a face impõe
fosse vida, fosse via
de coroa do parnaíba
vejo teresina se mexer
sem nenhum devir.


Chico Castro
em CAMISA ABERTA e OUTROS ASTRAIS 
Teresina: 1976

ELZANO SÁ NO DIA-RIO-I, Chico Castro


dia correr de cavalos
a certeza de não mais voltar
dia-rio correr como o rio
matar como o rio
no dia-rio, cedo, a manhã aflora, no dia-rio
ser maior que a fantasia
ser maior que o relógio tic-tac
frio dia-rio
dia-rio a certeza da sorte má
no dobrar de uma esquina
em qualquer rua de teresina


Chico Castro
em CAMISA ABERTA e OUTROS ASTRAIS 
Teresina: 1976

19.12.15

PROPOSTA, Chico Castro


eu quero ter uma cidade
como o sol que bate numa laranja
solitária em sua geografia
de laranja
eu quero ter uma cidade
com a mesma convicção
de quem elabora um objetivo fatal
eu quero ter uma cidade
que seja só cidade
que viva como qualquer cidade não
que morra como qualquer cidade


Chico Castro
em CAMISA ABERTA e OUTROS ASTRAIS 
Teresina: 1976

6.9.14

MEU NÓS & ELIS, Chico Castro


O belo texto da Patrícia se refere a um período posterior aos primórdios do Nós & Elis. Porque, diz ela, a sua inserção nas noites do bar se deu quando o mesmo se encontrava sob a administração da família Fonteles, vale dizer, da médica Nazaré Fonteles, suas irmãs e irmãos.

Em 1989 (ano em que se deu o show da Patrícia que ainda era Melo), eu morava no Rio de Janeiro e recebi a visita do cantor Terra Francisco, à época namorado da Nazaré. O Terra foi à Cidade Maravilhosa gravar o seu primeiro LP, ao qual dei uma modesta contribuição.

Como sou (bem) mais velho do que a Patrícia, tive a sorte de conhecer o bar desde o começo. Só pra se ter uma ideia, no dia 25 de abril de 1984, quando da votação das diretas, eu e mais uma pá de gente, estivemos lá torcendo. Além de frequentador assíduo era também um dos últimos a sair; ficava tomando as eternas saideiras como o dono, meu amigo Elias do Prado Júnior, de saudosa memória.

Vi muita gente famosa de hoje dando os seus primeiros passos na música popular brasileira feita no Piauí. E também ouvi muitas estórias e fui testemunha de muitos fatos que a minha prudência de cinquentão (fiz 56 anos dia 10.12.2009) não me permite mais revelar em público.

O certo é que o Nós & Elis deixou um lastro de glória e de vitória para a cultura piauiense. Lá, eu e muitos poetas fizemos vários happenings, madrugada adentro. Aliás as mulheres mais bonitas de Teresina estavam bem ao alcance de nossas cobiças libidinosas. A comida era boa e farta. No começo, o Elias dava uma prato a mais para quem pedia um jantar. Pagava religiosamente os músicos, um dos primeiros, se não o primeiro, a fazer tal prática uma questão pessoal.

Era no tempo em que a zona leste não tinha os espigões de hoje. Nem a violência. Saíamos para acender nossos baseados bem na pracinha que ficava ao lado do bar. Muitas vezes vim a pé para casa, só pelo prazer de andar pelas ruas desertas de Teresina, sem medo algum, ou pelo simples motivo de desejar acender mais um, antes do merecido sono. Ou por ter gasto todo o dinheiro com as eternas saideiras em companhia do Elias.

É isso. O Nós & Elis marcou um tempo que nenhum esquecimento pode apagar.


Chico Castro
em "No Nós & Elis: A Gente Era Feliz – e sabia"
Teresina: Gráfica Halley, 2010
Organizado por Joca Oeiras

5.3.12

O CASO DO BUROCRATA MR-7 E SUA AMANTE LEE DIAMOND, Chico Castro


"Sou chefe de pessoal de uma
grande empresa,
dessas que têm autorização especial
dos órgãos estatais
para a exploração da flora  da fauna
piauienses.
"Possuo um apartamento
financiado pela Caixa Econômica Federal
nas melhores condições de
pagamento do mercado:
* 4 quartos
* living com varanda
* suíte com vídeo deck e bar
integrados
* sauna e sala de repouso
* salão de ginástica equipado
* quadra de esportes
* sala de estudos para crianças
* playground e jardim
* salão de recepções
* lavanderia exclusiva e vaga na
garagem".
"De segunda a sexta-feira trabalho
que nem um condenado,
enquanto minha mulher tenta
mudar de cara
na Emê Clínica e Estética
sonhando em fazer aquela
viagem ais EUA
que eu havia prometido ano
passado".
"Nos fins de semana eu me divirto.
Pego o meu carrinho comprado
numa dessas concessionárias da vida
e vou para o Nós e Elis. Lá eu
bebo, bebo, bebo, até
ficar quase de porre, os braços, as
pernas, a cabeça
aos trancos e barrancos, depois de
conversar sempre com a mesma
gente".
"No sábado à tarde, recebo e faço
algumas ligações, marco encontros,
vejo alguma revistas e jornais que
eu não pude ler no decorrer da semana,
e no domingo a minha sogra vem
almoçar aqui em casa
para o bel-prazer da minha mulher
que tem, finalmente, com quem
conversar".
"Depois do Fantástico, eu vou
dormir
pensando no meu benzinho, porque
amanhã é segunda-feira
e a vida, dizem os meus amigos, não
está para brincadeira".


Chico Castro
em O Livro da Carona 
Teresina: Edição do autor, 1994