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8.4.14

DOPADO NO CORAÇÃO MERCADO




são os peixes das casas mortas, sem curvas
                                                          e sem virgindade
eles não têm receitas paras os comprimidos,
eles não têm doutores que curem nuvens.

eu disse a truffaut o que queria
e ele olhou como se tudo que pedi
fosse pouco para um dia.

não morro de nada
converso com os invisíveis e eles me agradam
são ternos e isósceles
escapam e pedem misérias
ficam na beirada e vazam
ouvem as parees e dizem:
tenho um quarto sem nada.
e digo:
tenho desenhos no tornozelo.

passamos os muros e as extensões
existe o que se espalha na rua
as pessoas recebem os passes e os acordes
se assustam com a poesia em caixas de remédio.



Demetrios Galvão
em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

CIDADES RABISCADAS REMIX VOL. 1




a decomposição atroz e as vertigens.

fechar as janelas diante do simulacro e
se derramar pelos diversos andares da cidade
pelo hipertexto de suas entranhas
de suas tripas magnéticas
de sua fauna nervosa
de sua flora deserta em seu rizoma de concreto.

a decomposição atroz e as vertigens.

ruas lineares x o acaso dos dados na diáspora do sólido
o lado de dentro e o de fora de uma cartografia
buscar uma fenda para se esconder
no paradoxo luz / sombra
digerir o desejo das estátuas na dilatação ao sol
uma eternidade de enigmas adormecidos.

a decomposição atroz e as vertigens.



Demetrios Galvão
em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

6.11.13

CARTÕES-POSTAIS DO FIM DO MUNDO




o olho em falso vacila na transversal:

no cheiro do medo, o faro desmedido
no horizonte, uma procissão de pássaros fosforescentes
há sol em cada canto do dia e os orixás fazem poemas-crianças
modigliani montado em um ganso
alimenta os peixes com a estranha beleza de suas mulheres.

uma tempestade de insônias sopra nos olhos:

os faróis acendem uma cadeia de mandíbulas
os vestidos caem do céu no museu-retina-de-porcelana
uma filha de lilith rola à beira do lago das danações
grandes doses de pílulas de café são dadas às estátuas da cidade e
baudelaire translúcido flana na rua do hospício.

– os corações saltam de pára-quedas
e os turistas fazem festas nos cartões-postais do fim do mundo.



Demetrios Galvão
em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

UM FRAGMENTO DA DECRÉPITA PROVÍNCIA




teresina explode num jogo de fliperama, entre um dicionário e o peso da mediocridade, suspensa como um móbile, cheia de conceitos e recortes obtusos. face feita de algo sem passado, estéril ao que se movimenta e o barulho das sementes é estrondoso, raízes aos montes e prédios sem alma se erguendo como bambus na beira do rio. fluxo desordenado de matéria. o bolo abandonado no prato de beirada quebrada lembra algo velho descartável sem utilidade desafiando qualquer velocidade ou dinâmica e assim de graça eu digo que quero te beijar e esquecer que estou preso. caio fernando abreu vomita na minha cara e não me mexo falo reajo estático como o meio-fio, apenas margem, o nexo às vezes é só uma conseqüência do que pode ser o absurdo desfilando de um lado pro outro feito bicho de zoológico. teresina explode em clichês gordurosos.



em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

A PREVISÃO DO TEMPO É UMA FALÁCIA


p/ mardônio frança e nuno gonçalves

os brinquedos, os jogos de adivinhação, a cidade e suas senhas-salamandras, as mandalas hipnotizadoras, a rota da barbárie e as memórias que entregam o seu coração aos bandeirantes, que entregam seus nomes, sua prole, seus sonhos de se tornarem camaleões ou peixes ou águias ou fogo. há setas que apontam pro norte, há uma confusão nos sensores, sentidos, os poemas-malabares cospem fogo, os cheiros e o sexo estão longe, o mar chega para lamber e sarar as feridas, o vento é chicote bem vindo nas costas, os brinquedos agora obsoletos, as conchas do mar, o pára-quedas está nas costas esperando ser aberto, a cidade colméia cria seus doentes mentais, a cidade frankstein devora seus doentes mentais, a cidade é uma seqüela aberta, ferida que nunca sara, cores mortas, portas fechadas, pernas e braços e cabeças e troncos espalhados pelas calçadas, os desenhos que se pintam são hecatombes, terremotos, nada de cores de almodóvar, a cada esquina um besouro a descer pela garganta, a sala de estar é um calabouço, um cala boca, uma mordaça, moscas cercando os cadáveres da cidade-hospício, cercando as mentiras e a dor da lembrança, pegamos carona em corpos alheios pra esquecer os sonhos ruins, há lugares que vendem coisas que já aconteceram, que já tocaram, que já foram vistas, que já foram lidas ou faladas, a cidade é uma sucata velha teimosa.



em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

SÁBADO DESABA EM ANDORINHAS


e alguns meninos idiotas encontraram pelas cozinhas
pequenas andorinhas com muletas
que sabiam pronunciar a palavra amor.

garcía lorca


a luz do dia acolhe o amor que acorda. as andorinhas brincam no parapeito dos prédios sem se preocuparem com seus pais, incorporando exus e fazendo acrobacias perpendiculares ao canto da multidão. não há como remendar os rios, nem fazer dos galos o despertador das metrópoles. uma rua de escamas espera uma cor cair do céu para alimentar sua história. pessoas fardadas borram o vento que passeia. o som de um pandeiro modela as curvas dos pedestres: um inseto faz-se broche na manhã de nossos peitos.



em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

ANOTAÇÕES SOBRE A CIDADE ALHEIA




os telhados falam do que não conhecemos, eles falam a língua dos musgos, da tinta seca, das telhas velhas: pegadas-perdidas-de-elefante. as paredes se escoram na flacidez do tempo, preguiçosas e pacientes, acordadas pelo som coletivo das matracas e o movimento das ancas dos cazumbás. a obesidade da cidade é um fato; suas estrias vazam – e nelas andamos. pequenas estações em cada fiapo de cimento ou planta, sombra do que se move e não pode ser segura, presa, pisada. a cavidade lasciva da brisa se faz caminho: sessão de filmes-sonhos no horário das pálpebras fechadas: – não quero que os galos me avisem que está amanhecendo.



em Insólito 
Fortaleza: Editora Corsário, 2011

Demetrios Galvão - síntese biográfica




Demetrios Galvão é historiador e poeta. Publicou os livros Cavalo de Tróia (2001), Fractais Semióticos (FUNDAC/PI, 2005), Insólito (ed. Corsário, 2011) e o cd Um Pandemônio Léxico no Arquipélago Parabólico (2005). Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi dos editores da AO-Revista. Tem poemas publicados em diversos portais e revistas: Cronópios, Corsário, Germina, Mallarmargens, Blecaute, Diversos Afins, dentre outras. Atualmente edita a revista Acrobata. e-mail: demetrios.galvao@yahoo.com.br