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11.4.16

"As Feras" ou "David Vai Guiar" (1972)








(...) fiz um filme que hoje é mais conhecido como Davi Vai Guiar ou Davi a Guiar, que no começo eu chamava de As Feras porque resolvi filmar tudo quanto era de maluco na cidade (na época havia uma gíria, “fera”, para designar se o cara ou a garota eram malucos) e criei um personagem chamado Inspetor Pereira, que era um policial perseguindo essa galera, esses cabeludos, essa rapaziada. Era um filme muito engraçado. (...) Eu quis fazer um filme em que eu filmava todos os malucos, todos os doidões de Teresina da década de 1970. Então eu filmei os meus amigos, filmei o grande bar da época que era o Gelatti – que ficava aqui na Frei Serafim – filmei o subúrbio, filmei gente fumando maconha, filmei meus amigos hippies, filmei os cabeludos, as meninas de minissaia, as namoradas, as namoradas dos meus amigos, usando como pontuação do filme um pensamento bem característico que era um inspetor de polícia perseguindo essa galera. O Inspetor Pereira era, digamos, o fio condutor da narrativa. Isso foi legal porque as projeções se tornavam um festival de gargalhadas, as pessoas se reconhecendo e havendo até mesmo uma torcida a favor dos malucos!

Durvalino Couto Filho em entrevista concedida a Jaislan Honório Monteiro 
Revista dEsEnrEdoS
Ano IV - número 15 - Teresina - Piauí - 2012



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David Vai Guiar representa um clássico exemplo dessa flanância investigativa pela cidade. Trocadilho com o nome do principal protagonista —David Aguiar—, o título remete às intenções centrais do filme: utilizar as noções de guia e contra-guia para, a partir de um deslocamento sobre a cidade de Teresina, ir dando visibilidade e afrontando aos instrumentos panópticos de controle do espaço urbano, como os sinais de trânsito. A cidade que emerge na tela, composta por um cenário bucólico que revela pacatos bate-papos de final de tarde nas calçadas, é repentinamente submetida a uma vertigem expressa por motocicletas e automóveis que deslizam por suas ruas em alta velocidade. Ao som ao mesmo tempo agressivo e melancólico da banda de rock Pink Floyd o protagonista sorri quase furiosamente, enquanto, cabelo ao vento e a pretexto de guiar sua motocicleta, arrasta os olhares na contramão. O argumento do filme se concentra em um esforço para ler os signos da cidade com base em uma afronta aos regulamentos. Urubus, por exemplo, são apropriados como instrumento de uma estética minoritária, problematizadora da própria noção de belo. O destaque, entretanto, em David Vai Guiar, tanto quanto em O Terror da Vermelha, é dado às tabuletas de trânsito, as quais são consumidas sempre no sentido da negação.

Edwar de Alencar Castelo Branco
em Táticas caminhantes: cinema marginal e flanâncias juvenis pela cidade.



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Produção: Arnaldo Albuquerque e Durvalino Couto Filho
Câmera: Arnaldo Albuquerque, Durvalino Couto Filho e Edmar Oliveira
Roteiro e direção: Durvalino Couto Filho

21.11.15

ESTILHAÇOS: ENTRE O MARGINAL E O EXPERIMENTAL



O vídeo-documentário “Estilhaços: entre o Marginal e o Experimental” tem como objetivo geral relatar a produção do Cinema Experimental, posteriormente chamado de Cinema Marginal, feita com a câmera Super 8, em Teresina, no início dos anos de 1970. A ideia de fazer cinema superoitista surgiu de um grupo formado por oito jovens que eram adeptos à cultura marginal. Como objetivo específico, buscou-se retratar o movimento através da apreciação de três filmes que fizeram parte do ciclo de produção do grupo. A narrativa é construída por meio dos depoimentos de alguns dos produtores, diretores, atores e roteiristas dos filmes da época, através de entrevistas em profundidade realizadas com base na pesquisa documental e fílmica. Ao final do trabalho foi possível retratar o sentido de Cinema Marginal em formato audiovisual, através da junção da significância do movimento cinematográfico dada pelos produtores e pela análise geral de um historiador pesquisador da área.

Sob a influência das produções cinematográficas nacionais e com uma experiência junto aos cineastas nacionais como Ivan Cardoso e Glauber Rocha, Torquato Neto veio à Teresina com a ideia de fazer cinema com o recurso que tinha: a câmera Super 8. O objeto privativo da Kodak era de fácil manuseio e de custo baixo em relação às outras câmeras, porém, ainda era pouco acessível e nasceu com o objetivo de fazer pequenos registros (cada rolo de filme Super 8 tinha apenas 3 minutos) de eventos familiares, mas com o advento do experimentalismo cinematográfico foi utilizado para fazer filmes um pouco mais longos na intenção de expressar as nuances juvenis daquela época. Aos seus 28 anos, Torquato Neto se uniu a outros jovens piauienses de classe média como Edmar Oliveira, Arnaldo Albuquerque, Durvalino Couto Filho, Paulo José Cunha, Carlos Galvão, Francisco Pereira e Noronha Filho para fazer cinema com a Super 8 no Piauí.


Direção e roteiro: Patrícia Kelly
Produção: Morgana Castro e Alison Santos 
Imagens: Alison Santos, Morgana Castro e Patrícia Kelly 
Edição: Dionísio Costa

31.7.15

TORSULA



conheci um poeta que foi ameaçado com uma camisa-de-força caso se recusasse a seguir a medicação do hospital. e olha que ele foi para o hospício porque queria descansar. a família encaminhou tudo e deixou a entender que, sempre, toda e qualquer medida só seria tomada com o seu (dele) consentimento. ele disse para a médica no corredor:
                                                                                    - ME DEIXE EM PAZ, SUA PORCA.
                                                                                    Ela havia dito antes, em tom de 
                                                                                    gozação: 
                                                                                   - é assim que você que ficar em paz? matando sua mãe aos poucos. quando é que você vai entender as coisas? você não acha que já fez demais nesse tempo em que passou fora? por que você não resolve seus problemas de sexo com estas menininhas de subúrbio? olha, meu filho, você se engana se pensa que eu não conheço marx. seus parentes me falaram de seus problemas com tóxico. você não acha que pega mal ser um maldito amparado pela família?
MORDAZ MORDAÇA SANGRIA



Durvalino Filho
Os caçadores de prosódias
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1994

7.4.14

NÓS E O "NÓS & ELIS"




A maior importância do Nós e Elis é, sem dúvida, ter dado início à profissionalização dos músicos de Teresina, que passaram a ter cachê fixo e negociado para tocar nos bares da noite da cidade. Este é um dos méritos de Prado Junior, parnaibano de boa cepa que aqui aportou, começou uma carreira de empresário, homem público e político venturoso, infelizmente interrompida por uma morte traiçoeira e prematura.

O Nós e Elis era o bar das canjas. Nós íamos para lá e nos revezávamos a noite toda tocando, enquanto os freqüentadores se divertiam, conversavam, paqueravam, namoravam, casavam, separavam – muitos romances começaram e terminaram ali, enquanto embalávamos a noite com nossas canjas. Havia sempre o artista principal ou grupo principal, previamente contratado e com cachê no final da noite pago religiosamente. O resto era na canja mesmo e, em noites especiais, quando o Elias tinha um ataque de loucura e de generosidade, ele mandava distribuir umas cervas extras ou uma garrafa de uísque – e nós vibrávamos e íamos ficando até altas horas, quando não até de manhã.

O bar era numa esquina-beco do tipo ferro de engomar. Apertadinho mas, no entanto, cabia todo mundo nos seus bancos compridos e desconfortáveis, com sua iluminação precária, seus banheiros apinhados de gente mijando, seus garçons sempre apressados.

Nessa época eu era namorado da Soraya (depois ela engravidou e casamos, claro) e passamos bons momentos ali. Gostávamos de ficar na “esquininha”, como chamávamos, perto da janela do bar onde ficávamos bebendo e pedindo direto ao Prado Junior, à sua simpática mulher ou a qualquer outro funcionário a nossa bebida. Os garçons ficavam putos porque este era um artifício nosso de beber sem pagar a comissão de 10%, e eles ainda tinham de disputar com a gente o exíguo espaço da janela que dava para o bar. Mas no fim todos se entendiam.

Numa determinada época o sucesso do bar era tanto, que Prado Junior resolveu fazer uma programação, todo dia era uma atração diferente – quarta-feira era poesia, domingo era rock, sexta era samba, não me lembro da ordem das atrações, mas havia dias que tinham até espetáculos teatrais, como vi aquela peça famosa estrelada pelo Fábio Costa e a Lari Sales, cujo título e autor me fogem nesse instante.

Vou tentar dizer os nomes dos músicos que tocavam direto lá: Geraldo Brito, Edvaldo Nascimento, Emerson Boy, Júlio Medeiros, Paulo Aquino, Aurélio Melo, Bebeto e Carlinhos bateristas (e eu também, porra), Tim Fonteles, Jaboti Fonteles, Tânia Fonteles e toda a família Fonteles quando estava por aqui, Liminha, Roraima, Edgar Lippo, Márcio Menezes, Naeno, Assizinho, a rapaziada do samba & pagode comandadas pelo Porkovitch, Magno Aurélio, Rosinha Amorim, Rubens e Fátima Lima, Garibaldi e Carla Ramos, Patrícia (hoje) Mellodi – meu Deus do céu, eu não disse nem a metade e vou terminar fazendo injustiça com os que esqueci, perdão, amigos e amigas.

Apesar do espaço apertado do bar, logo atrás havia uma pracinha calma e tranqüila, com banquinhos feitos para namorar ou amarrar uma paquera (quando não uma transa mesmo, para logo mais num motel). A pracinha está lá até hoje, mas o espaço do Nós e Elis foi transformado em mais uma padaria, tudo bem, uma padaria, mas totalmente sem graça para mim. Passo lá e me dá saudade dos tempos em que ali a noite fervilhava, a gente era feliz – e sabia.



em "No Nós & Elis: A Gente Era Feliz – e sabia"
Teresina: Gráfica Halley, 2010
Organizado por Joca Oeiras

20.10.12

TRESIDELAS, Durvalino Filho

a Edmar Oliveira

THERESYNA
THE SUN
THE MOON
TYMON


Durvalino Filho
Os caçadores de prosódias
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1994

22.2.12

VERBICIDADE




EU teresino
TU teresinas
ELE teve sina
NÓS teresinamos
VÓS tereis sinais
ELES teresinam



Durvalino Filho
em 145 anos: Teresina Cidade Futuro
Teresina: FCMC, 1997