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28.1.16

UM ESTRANHO EM TERESINA, Cunha e Silva Filho




Estive há pouco em Teresina e desta feita me achei um peixe realmente fora d’água, um estranho no ninho. Não que o desejasse, mas a culpa, leitor, é unicamente minha. Quem manda não a ter frequentado mais amiúde.

Da janela do hotel, lá fora, dava uma espiada para o que poderia ver que valesse a minha atenção ou curiosidade. Pois não é que procurei e achei. Era a visão de uma mulher, em plena tarde de um sol escaldante, caminhando, caminhando, caminhando, debaixo de uma sombrinha. Claro que não foi só aquela mulher que portava uma sombrinha para abrigar-se do sol abrasante. Não me lembro de outras vezes que andei por Teresina de reparar nesse costume local, aliás, bem justo e necessário, de usar uma sombrinha contra o rigor solar. Esse hábito me parece ser apenas feminino, já que não vira nenhum homem utilizando um guarda-sol.

Aqui no Rio de Janeiro, usar uma sombrinha ou guarda-chuva, em pleno calorão, não é comum como na “Cidade Verde”. Lá é hábito; aqui, é exceção, chega mesmo a ser constrangimento para quem dele faz uso com receio de se ver vítima de um gaiato qualquer perguntar-nos se está por acaso chovendo. O carioca sofre, mas não abre o guarda-sol. “Os cariocas somos pouco dados” aos guarda-chuvas, ou chapéu de sol ou muito menos a uma sombrinha, para nos intrometermos, sem sermos chamados, no labiríntico intertexto machadiano.

Das últimas vezes que fui a Teresina não me passava pela cabeça um persistente temor de violência. Não me queira por isso na conta dos paranoicos, dessas criaturas que, nas grandes cidades, passam a ter medo de tudo diante da disparada da violência dos últimos anos.

Confesso-lhe, leitor, porém, que, em Teresina, só andei mais em carro particular que, no meu caso, era do meu amigo, o ensaísta M. Paulo Nunes, de sorte que não me expus à sanha de algum pivete ou assaltante.

Num final de manhã, notei que, no hotel, não dispunha de papel para escrever, nem de caneta; a que trouxera comigo na viagem se perdeu não sei onde. Lá fui às ruas de Teresina. Algumas delas eu conhecia de priscas eras. Com o tempo, a gente perde um certo traquejo de andar por ruas de nossa cidade. Entretanto, o “eu” do presente era outro, e as ruas, à altura em que as podia identificar, não ficavam em trechos por mim palmilhados com assiduidade no passado.

Mesmo assim, criei coragem e, vendo o nome de uma rua e de outra, alguma, conhecida, outra, não, fui dar na bela Av. Frei Serafim, que divide dois lados de parte da cidade. Indaguei aqui, ali e, por fim, consegui encontrar uma papelaria. Comprei um caderninho escolar de poucas folhas e uma caneta azul. Lembrei-me, então, que teria que comprar um exemplar da edição daquele dia do jornal Meio-Norte. No hotel, depois do café, já havia passado uma vista no exemplar que me interessava, aquele no qual havia uma reportagem sobre mim a propósito de conferência que iria fazer na Academia Piauiense de Letras. A reportagem tinha sido feita no dia anterior por ocasião do lançamento, no Museu Odilon Nunes, de mais um número da excelente revista Presença, com apresentação de M. Paulo Nunes. Procurei o exemplar em mais de uma banca até que o encontrei. A reportagem exibindo foto minha, saíra bem escrita, mas continha um erro. A jornalista que me entrevistara omitira do meu nome literário, a palavra “Filho”. Sem querer, virei o nome de papai. Ainda bem que estava em boas mãos paternas e na mídia jornalística que ele tanto amava.

Voltando a Teresina, tópico principal desta crônica, pude observar outras coisas. Me convenci por completo  de que sou um estranho na cidade. Perdi mesmo o bonde da história de Teresina.

A minha Teresina não é a de hoje. Ela ainda existe e se estende por todo o velho centro da urbe. Lá vejo, intactos, alguns pontos de referências; o Theatro 4 de Setembro, o Rex, a Praça Rio Branco (o relógio!), o prédio do Arquivo Público (ó tempos da infância!) da rua Coelho Rodrigues e que, hoje, comporta também o Conselho Estadual de Cultura, a Praça Pedro II, o Karnak, a Praça João Luis Ferreira, o antigo Prédio dos Comerciários (que, um dia, fora o mais alto edifício da cidade), a Praça do Liceu (ah, sim, Landri Sales!), o Liceu Piauiense, as igrejas de São Benedito, a minha preferida, a do Amparo, a das Dores, a Praça da Bandeira, muito modificada e maltratada, e principalmente as queridas e amorosas ruas da velha Teresina, nas quais tudo nelas me leva inexoravelmente ao passado. Ah, ia-me esquecendo, o velho rio Parnaíba, o Poti (agora com sua enchente e suas vítimas). Enfim, esse passado soterrado no tempo, me está, contudo, vivo e ora me leva à alegria, ora à melancolia. 

O que não se circunscreve a essas ruas, a esses prédios, a essas arquiteturas variadas alcançadas pela minha geração não parece fazer parte da minha memória. A Teresina nova, trepidante, dos arranha-céus não me atrai. Essa Teresina verticalizada se iguala às outras metrópoles, vira mesmice. Nada tem a ver comigo em Teresina.

Relendo os belíssimos poemas de Paulo MachadoPost card/57” e “Post card/77” extraídos do livro Tá pronto, seu lobo? e “Nas ruas da minha cidade há lições? (É preciso aprendê-las)", retirado do livro A paz no pântano (1982), que se encontram na antologia A poesia piauiense no Século XX, de Assis Brasil, vejo que a poesia de Paulo Machado, de alguma forma, me conforta e não me deixa esquecer essa Teresina. Os dois primeiros poemas citados se valorizam pela riqueza semântica resultante de sua arquitetura contrapontística em termos de realidades espaciais semelhantes aliadas a realidades temporais diversas. O terceiro poema, ainda inserido na categoria do tempo fluído, reforça o tom rememorativo de viés rebelde na transposição da realidade histórico-social. Poemas de grande impacto estético que, em mim, despertam, de certa forma, por coincidência ou não do fenômeno poético, quase a mesma sensação provocada por aquela maneira de descrição pulsante, vibrátil, vigorosa, do realismo inusitado de Cesário Verde (1855-1886), como seriam exemplos os versos abaixo do poema “Post card/57":


                                    No mercado central pretas carnudas
                                    Vendiam frito de tripa de porco
                                    Fígado picado e caninha.


Os novos bairros, avenidas, artérias, em suma, o espalhamento topográfico horizontal da cidade me espanta e ao mesmo tempo me dá a sensação de que estou em outro lugar, que nada tem mais a ver comigo, e com o meu espólio (triste espólio devorado pelo tempo!) de relembranças. Estas, por definitivo, vou encontrar num cruzamento qualquer da minha própria Teresina da memória.



Cunha e Silva Filho
via Portal Entretextos

21.11.15

MEMÓRIA PEDRO II, por M. Paulo Nunes



Houve um tempo em que a vida social e política de nossa capital era feita em suas duas principais praças, a Rio Branco e a Pedro II, esta mais nova, uma vez que a João Luiz Ferreira, sem dispor ainda do necessário tratamento urbanístico, o que somente ocorreria por volta da década de 50, era destinada apenas aos festejos juninos que a animavam uma vez por ano.

Na Rio Branco, a mais antiga, que vinha das origens da capital, onde ficavam os bares, os cafés e o cinema Olympia, de propriedade do Sr. José Ommati, se fazia a vida política, social e literária, ora, no Bar Carvalho, ora, no Café Avenida, todos já desaparecido, o último dos quais criminosamente convertido num estacionamento de automóveis, na última reforma do Hotel Luxor, o antigo Hotel Piauí, realizada pelo governo do Estado, na década de 70. No Bar Carvalho, com um excelente restaurante, em que se destacava o bife a cavalo do famoso cozinheiro espanhol Gumercindo, reuniam-se os políticos, os juízes, os desembargadores e os professores da Faculdade de Direito, que funcionava no prédio do antigo casarão que abrigava algumas repartições do Estado, também criminosamente demolido para dar lugar ao edifício da Receita Federal, originalmente destinado a um centro administrativo e transferido, de mão beijada, como se dizia, ao Governo Federal, que o concluiu.

No Café Avenida, se reuniam, ordinariamente, os intelectuais, os membros da Academia Piauiense de Letras, que ali realizava, inclusive, suas eleições, e a colônia síria que formava, todas as tardes, uma roda de conversa em sua língua.

A Pedro II teve vida mais recente. Quando vim para Teresina, continuar meus estudos e preparar-me para a vida, em 1938, já ela existia, inaugurada que fora, no ano anterior, com o nome atual. Agora restaurada, não integralmente, em sua feição ordinária, dá uma ideia, entretanto, de como ela era. No plano superior, junto ao antigo Quartel de Polícia, hoje Centro de Artesanato, reunia-se o pessoal chamado de 2ª, constituído de empregadinhas domésticas, soldados de polícia e a arraia miúda, em seus namoricos de ocasião. Havia ali também o coreto, ora restaurado, não como fora anteriormente, onde, às quintas-feiras, a banda de música da Polícia Militar executava o seu nutrido repertório, constituído de dobrados famosos como o “Capitão Caçula” e “Juarez”, este, em homenagem ao Cap. Juarez Távora, herói da Revolução de 30: “Juarez, Juarez, o teu nome é uma glória / o Brasil te consagra o general da vitória.”

Na parte inferior, se reunia a chamada elite, com moças e rapazes desfilando em sentido contrário, a fim de que os olhos pudessem encontrar-se, já que os corpos teriam que manter-se à distância, segundo os rígidos costumes da época.

A praça era ladeada por algumas residências e na parte oeste, por alguns cafés e um arremedo de hotel, bastante chic para a época, chamado Hotel Central. Ao lado do Theatro 4 de Setembro, que à época funcionava como cinema, de propriedade do Sr. Alfredo Ferreira, salvo quando aportavam alguma companhias teatrais, alguma famosas, o que era freqüente, foi aberto, a partir do final da década de 30, o Cine Rex, cujo proprietário era o Sr. Bartolomeu Vasconcelos.

No centro do passeio da Praça, havia um sugestivo globo de luz, de cor esverdeada, em torno do qual se reuniam, em meados da década de 40, os plumitivos das letras, superiormente indiferentes ao fascínio do eterno feminino que mostrava suas formas exuberantes à curiosidade dos rapazes do nosso tempo, enquanto, nós outros, superiormente nos empenhávamos em discussões bizarras, sobre literatura, política, filosofia e outros temas inúteis. Quanto tempo perdido!

Ali nos reuníamos H. Dobal, nosso excelso poeta, O.G. Rego de Carvalho, nosso maior romancista. Edmar Santana, um professor brilhante, talvez o mais velho, que logo se mudaria para o sul do país e de quem há poucos anos recebi das peças teatrais, Eustachio Portella, que se tornaria psiquiatra de renome nacional, José Camilo Filho, que desenvolveria o ensino universitário no estado, através de nossa Universidade Federal, de que foi Reitor por dez nos, Afonso Ligório Pires de Carvalho, jornalista e romancista, residente em Brasília, Genésio Pires de Carvalho, procurador público, o autor desta nota e os que já se encontram do outro lado do mistério, como diria Machado de Assis; Arnaldo Victor de Pinho, bancário e engenheiro naval, José Maria Ribeiro, membro de nossa Academia e alto funcionário do Banco do Brasil, José Ribamar de Oliveira, romancista e membro da Academia, e Vítor Gonçalves Neto, o nosso Vitinho cronista e boêmio incorrigível. Vez por outra, por ali aparecia, como um furacão, o poeta Anísio de Abreu Pereira da Silva, que a frequentou por pouco tempo.

Em nossa Arcádia, como se auto-intitulava aquele grupo estranho aos pacatos hábitos provincianos, foram geradas algumas idéias importantes, como a da criação do Clube dos Novos, de vida efetiva até o final da década de 40, e a Revista Meridiano, que seria dirigida por O.G., Hindemburgo e o autor destas linhas que, como revista literária, surgiria também ao influxo daquelas discussões bizantinas

Tudo isto, que já é passado, em nós ainda subsiste. O desfile das moças em flor, quais aquelas “jeunes filles em fleurs” de Marcel Proust, a corneta do Quartel, em seu toque de silêncio, como que a chamar para seu redil as moças casadouras, os nossos sonhos e esperanças fementidos, tudo revive ainda em nós, como naquela quadra de Pessoa:

“Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma”.



M. Paulo Nunes
em P2 
Livraria e Editora Corisco LTDA, Teresina: 2001


11.11.13

PIAUIZEIROS




Cabelos moicanos
desbravam a praça João Luiz Ferreira
armados com cadernos embolados
debaixo dos sovacos. 



Nathan Sousa
enviado pelo autor

3.11.11

VIR VER OU VIR, por Torquato Neto




a coroa do rio poti em teresina lá no piauí. areia palmeiras de babaçu e
céu e água e muito longe, depois, um caso de amor um casal uns e outros.
procuro para todos os lados - localizo e reconheço , meu chicote na mão e
os outros: a hora da novela o terror da vermelha
o problema sem solução a quadratura do círculo o demônio a águia o núme-
ro do mistério dos elementos os quintais a minha terra é a minha vida!
o faroesteiro da cidade verde
estás doido, então? (sousândrade)
ela me vê e corre, praça joão luís ferreira
esfaqueada num jardim
estudante encontrado morto

ando pelas ruas tudo de repente é novo para mim. a grama. o meu caso de
amor, que persigo, êsses meninos me matam na praça do liceu. conversa com
gilberto gil
e recomeço a
vir ver ou
aqui onde herondina faz o show
na estação da estrada de ferro teresina-são luís um dia de manhã
ali
onde etim é sangrado



TRISTERESINA



uma porta aberta semiaberta penumbra retratos e retoques
eis tudo. observei longamente, entrei saí e novamente eu volto enquanto
saio, uma vez feriado de morte e me salvei
o primeiro filme - todos cantam sua terra
também vou cantar a minha



VIAGEM/LINGUA/VIALINGUAGEM



um documento secreto
enquanto a feiticeira não me vê
e eu pareço um louco pela rua e um dia eu encontrei um cara muito legal
que eu me amarrei e nós ficamos muito amigos eu o via o dia inteiro e a
poucos conheci tão bem.

VER

e deu-se que um dia eu o matei, por merecimento.
sou um homem desesperado andando à margem do rio parnaíba.

BOIJARDIM DA NOITE

êste jardim é guardado pelo barão. um comercial da pitu, hommage, à sa-
úde de luiz otávio.
o médioc e o monstro. hospital getúlio vargas. morte no jardim. paulo josé, meu primo, estudante de comunicação em brasília, morre segurando bravamente seu rolling stone da semana

sol a pino e conceição.

VIR
correndo sol a pino pela avenida

T E R E S I N A

zona tórrida musa advir

uma ponta de filme - calças amarelas
quarto número seis sete cidades



Torquato Neto
em Gramma, nº 2
Teresina, 1972



23.10.11

LEMBRANÇAS DE AMOR, Hardi Filho


Não são somente lembranças
de um imenso amor vivido,
é um desejo insopitável
de vê-lo reconstruído.

Passaram anos e ainda
lateja na minha fronte
a dor de ver-te sumindo
no pó do tempo horizonte...

Ah se eu pudesse trazer-te
de retorno ao meu caminho
para de novo enredar-me
nas rendas do teu carinho!

Novamente andar contigo
de mãos dadas (que eu adora!);
repetir nossos passeios
pela Praça Deodoro...

Eu preciso, meu amor,
novamente te esperar
naqueles pontos de encontro
desta cidade sem par.

Esperar e ansiar de novo,
quase a perder o juízo,
pela graça de teus olhos,
pelo teu belo sorriso...

E receber-te do jeito,
da forma de antigamente,
com aquele abraço louco,
com aquele beijo ardente!

Reviver os bons momentos
que ainda me tocam fundo,
te encontrar cedo da noite,
na Praça Pedro II.

Voltear naquela praça
cumprindo o geral esquema,
ou então bulinar teu corpo
no escurinho do cinema...

Eu preciso te esperar
como tantas vezes fiz,
ansioso por teus beijos,
lá na praça João Luís.

Subir contigo os degraus
da Igreja São Benedito;
chegar ao ceú, com as asas
daquele amor infinito!

Quantas vezes nos metemos
em façanhas aloucadas...
Lembras o nosso equilíbrio
no fio das madrugadas?...

Corações cheios de encanto,
mãos afoitas...lábios quentes...
Tu querendo...mas parando
os meus arroubos frementes.

Como lembro os teus carinhos
e a tua sinceridade
na aventura que vivemos
tão própria daquela idade!

No campo do sentimento
o tempo passa e não passa.
As marcas de um grande amor
não há nada que desfaça.

Quem tem passado bonito
vive um presente feliz.
Aquele tempo foi lindo!
esta saudade me diz.

Saudade que bem se ajusta
ao meu modo singular
de na vida esquecer penas
e só belezas lembrar.

Não podendo reviver
um tempo que foi tão bom,
me consola, amor, cantá-lo
em saudoso e alegre tom.

Mas eis que ocorre um milagre!
(Ninguém com isto se espante)
Neste momento ressurges
do tempo-nuvem distante...

Vens vestida de invisível
e aqui te fazes presente.
Só os meus olhos te vêem,
só meu coração te sente.


em Tempo Nuvem 
Teresina, 2004

12.8.11

Praça Pedro Segundo, dos anos 30 à década de 90, Diva Maria Freire Figueiredo


A atual Praça Pedro II, que nasceu como Praça João Pessoa e foi rebatizada, sucessivamente, com os nomes de Independência e Aquidabã. Desde cedo demonstrou sua vocação para centro artístico e cultural, quando se instalou o Teatro Concórdia nas meias águas do prédio do Quartel de Polícia, em 1879. Essa tendência é confirmada pela construção do Theatro 4 de Setembro, em 1894; do Clube dos Diários, em 1927 e do Cine Rex, em 1939. Todas essas obras estão localizadas no perímetro da praça ou na sua vizinhança imediata.

Em 1936, um pouco antes do inicio da construção do Cine Rex, quando dominava entre as construções da época o estilo Art Déco, foi transformada por lei em Praça Pedro II, ao tempo em que sofre uma reforma para a implantação de um projeto paisagístico, cujas intervenções arquitetônicas e o mobiliário são representantes desse estilo, passando a se constituir na área principal de lazer da cidade. Entre os serviços previstos pelo projeto, destacam-se como identificadores da obra realizada: a construção de um coreto, da escadaria de acesso à parte alta, do revestimento dos pisos, do calçamento da rua diagonal, da balaustrada de proteção entre os dois níveis da praça, da fonte luminosa; a instalação de sistema de iluminação com distribuição de postes por toda a área e de cinquenta e seis bancos de concreto; a transferência e instalação da estátua do imperador, antes colocada na Praça João Luiz Ferreira; o plantio de 41 fícus.

Nova reforma sofrida no final da década de 50 introduz algumas novidades. A mais marcante, sem dúvida, e bastante documentada, consiste no pitoresco lado cortado por uma imitação de tronco caído, construído em concreto, que se transforma no cenário preferido dos fotógrafos para a confecção de retratos dos teresinenses. É provável que seja também dessa época uma representação de globo terrestre, construída em estrutura de metal, bastante referenciada por pessoas que vivenciaram os passeios na praça durante os anos 50 e 60. No entanto, essas intervenções preservam as principais características da praça até a década de 70, quando a última grande intervenção, de caráter renovador, descaracteriza totalmente a proposta paisagística anterior, inaugurada quatro décadas atrás, bem como os acréscimos introduzidos com o decorrer do tempo.

Em 30 de novembro de 1998, a execução de um novo projeto resgata esse seu antigo desenho e os elementos arquitetônicos mais significativos da década de 30. Assim, cumpre-se mais uma etapa do projeto de recuperação do Sítio Histórico da Praça Pedro II, iniciado um pouco antes, em 21 de novembro de 1996, com a obra de reestruturação do Clube dos Diários e de sua integração ao Theatro 4 de Setembro, reformado e inaugurado, por sua vez, em 26 de abril de 1999.

A realização desse conjunto de obras, realizada ora pelo Governo do Estado, ora pela Sociedade de Amigos do Theatro 4 de Setembro, com o apoio da Fundação Estadual de Cultura e do Desporto do Piauí – FUNDEC, é uma realidade. Ela se tornou possível graças ao financiamento direto do Ministério da Cultura, através de recursos do Tesouro, a recursos alocados pelo Governo do Estado, bem como ao patrocínio da Empresa Brasileira de Telecomunicação – EMBRATEL, através do programa de financiamento da cultura – MERCENATO – também do MINC.

Praça Pedro II, reconstruída, desempenha um papel especial no contexto urbano do centro de Teresina: o caráter exemplar na consecução do objetivo maior do projeto de revitalizar toda a sua vizinhança, destacando a vocação natural da área para o desenvolvimento de atividades ligadas às artes, ao lazer e ao turismo.


Diva Maria Freire Figueiredo
Arquiteta e diretor da 1ª SubRegional do IPHAN
P2: Teresina, 2001