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1.9.14

LEMBRANÇAS DO CINE ROYAL, Reinaldo Coutinho


No início dos anos 1960 o teresinense não convivia com nenhuma casa de cinema de qualidade. Havia o velho Cine-Teatro 4 de Setembro, o vizinho Cine Rex e o Cine São Raimundo, o “Cine Poeira” no Bairro Piçarra, que não ofereciam nenhum conforto aos seus frequentadores. Eram quentes, mal cuidados, poltronas desconfortáveis e exibiam geralmente filmes antigos. Claro que marcaram gerações de jovens e adolescentes, que pouco se preocupavam com o conforto, antes preferindo a emoção das películas. O importante era a tensão ante os perigos na película, os infindáveis comentários. Parte de nossa adolescência tinha como foco de lazer estes dois cinemas. Na falta de assentos chegamos a sentar no assoalho ou deitar na parte dianteira das cadeiras. E tome bombom Pipper (chamávamos píper).

Ninguém esquece os emocionantes bang-bangs, zorros ou seriados, e quando a fita cortava ou queimava a sessão era interrompida para os reparos do operador de câmera de projeção, o que gerava vaias e os tradicionais gritos de “ladrão”. Feito o reparo tudo terminava em festa com a vitória do “mocinho” contra o “bandido” ou com a chegada da “cavalaria”.

No início daquela década as senhoritas e senhoras de nossa sociedade raramente frequentavam aqueles cinemas, desprovidos do mínimo conforto e asseio. Nossos cinemas já tiveram dias melhores décadas antes. Tudo mudou com a constituição da moderna empresa Cinemas e Hotéis Royal Ltda, desde 01/02/1967, no cruzamento da Rua Coelho de Rodrigues com Treze de Maio. Moldada no exemplo da então invejável estrutura da rede nacional Grupo Luiz Severiano Ribeiro, (hoje Kinoplex, ainda com 215 salas), o Cine Royal inovou com modernidade e conforto. Apareceu o lanterninha, a sessão contínua e o ar condicionado, elementos desconhecidos dos decadentes cinemas teresinenses.

BILHETERIA DO ANTIGO CINE ROYAL

O conforto assombrava o aficionado teresinense, acostumado a ir ao Cinema de trajes simples. Agora o próprio ambiente impunha vestimentas mais adequadas, calçados ao invés de chinelos, comportamento à altura, etc. Os ingressos também eram mais caros. E o ar condicionado? Nada mais do calorzão que os rangentes ventiladores dos outros cinemas não conseguiam amenizar. Chegou após o início da exibição? Não tem problema: a sessão contínua permitia o usuário ficar na sala as sessões que quisesse. Geralmente estas exibições eram: 15 às 17 horas; 17 às 19; 19 às 21 horas, com pequenos intervalos entre as sessões.

Na esquina chanfrada do moderno edifício ficava a bilheteria. Logo após, na Rua Coelho Rodrigues, a porta de saída. Um pouco mais adiante, sempre na dita Rua, a porta envidraçada de entrada, que acessava a um saguão de espera, onde havia a bomboniére, bebedouro com água gelada, paredes espelhadas, poltronas, cartazes de películas, etc. Um luxo para aqueles anos 1960. Dali se adentrava sala de exibição a qualquer momento. Se fosse durante uma exibição, no escurinho do cinema, lá estava o lanterninha para orientar o frequentador.

 IMAGEM DO CRUZAMENTO DAS RUAS TREZE DE MAIO COM COELHO RODRIGUES
VEMOS = A BILHETERIA (1) E A PORTA DE SAÍDA (2) DO CINE ROYAL
IMAGEM DE AUTORIA DESCONHECIDA

Um pouco mais abaixo da entrada, sempre na Rua Coelho Rodrigues, ficava a vitrine com os cartazes dos filmes vindouros. As poltronas eram confortáveis e as películas, bem mais modernas e atualizadas, nunca cortando como acontecia nos velhos cinemas.

Durante os curtos intervalos entre uma sessão e outra havia as chamadas “paqueras”. Com a imposição dos costumes da época, a timidez de um flerte era vencida com o auxílio da conhecida Socorro, a “Muda”, personagem de frequência habitual no Cine Royal, que levava recados ou bilhetes de rapazes para moças e vice-versa. Os recados ela transmitia através de gestos. Era realmente uma figura folclórica em Teresina, presente em muitos tipos de eventos.

SOCORRO, A MUDA
PERSONAGEM FREQUENTE NO CINE ROYAL
FOTO = DEUSDETH NUNES

Assisti se não o primeiro, creio que o segundo filme exibido naquele cinema: “O Senhor da Guerra” (The War Lord, EUA, 1965), drama épico com o grande astro yankee Charlton Heston (1923-2008).

A última sessão não tenho certeza: deve ter sido em 1984. Ou foi um “água com açúcar” brasileiro com a atriz Bianca Byinton (n.1966), talvez “Garota Dourada’ (1984) ou o maior clássico do pornô americano, “Ana a Obcecada” (Anna Obsseded, 1977) com as então estonteantes Constance Money (nascida Susan Jensen, n. 1956) e Annette Haven (n.1954). Mas como frisei, não posso afirmar com exatidão.

Veio a concorrência com a televisão, os problemas internos da empresa e um dia, menos de duas décadas após sua inauguração cerraram-se em definitivo as portas do Cinema, deixando uma enorme nostalgia e uma imensa lacuna que só voltou a ser parcialmente preenchida na era dos cines dos Shoppings. Os tempos já eram outros...

31.8.10

O MERCADO CENTRAL DE TERESINA NA HISTÓRIA, Reinaldo Coutinho


Ele faz parte da própria vida da cidade de Teresina, ao lado de magníficas construções oitocentistas da Praça Marechal Deodoro ou Praça da Bandeira. Quem dentre os teresinenses nunca andou no entremeio das bancas e quiosques de verduras, carnes, ferragens, utensílios domésticos e artesanatos do Mercado Central de Teresina, também conhecido como Mercado Velho ou Mercado São José? Antes da eclosão dos supermercados por ali as famílias, geralmente carregando sacolas ou cestos de fibras, escolhiam criteriosamente as melhores frutas e verduras e as carnes mais frescas, sem esquecer a pechincha. A urbe teresinense já gravitou em torno dele, que continua sendo um ponto de referência histórico, cultural e alimentício da Cidade.

Os alicerces do Mercado Velho foram implantados com a própria edificação da cidade pelo Conselheiro José Antônio Saraiva (1823-1895) em 1852, no então ponto de gravitação urbana da Cidade, a atual Praça da Bandeira. O logradouro foi chamado inicialmente de Largo do Palácio em alusão ao Palácio Governamental aí localizado. Depois, passou a denominar-se de Praça da Constituição. Mais tarde, Praça Marechal Deodoro da Fonseca, denominação que permanece nos dias atuais (FUNDAC). Claro que no seu início o velho mercado era uma simples feira que rapidamente se transformou numa robusta edificação.


 IMAGEM DE 1910 DA PRAÇA DA CONSTITUIÇÃO. VEMOS O MERCADO CENTRAL (1), ANTIGA SEDE DO GOVERNO PROVINCIAL E HOJE MUSEU DO PIAUÍ (2), ANTIGO TRIBUNAL DE JUSTIÇA E HOJE LUXOR HOTEL; IGREJA N.S. DO AMPARO AINDA SEM AS TORRES, CONSTRUÍDAS SOMENTE NOS ANOS 1950 (4). FOTO: G. MATOS, ACERVO DO ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO

UMA IMAGEM BASTANTE ANTIGA, DO INÍCIO DO SÉCULO XX DO MERCADO CENTRAL, 
OBSERVANDO-SE AS PORTENTOSAS E SIMÉTRICAS ARCADAS /  IMAGEM: FUNDAC


Segundo a FUNDAC, o Mercado apresenta com a tipologia organizacional de uma antiga feira, com um pátio central e corredores internos e externos, destinados a lojas e açougues. Com traços arquitetônicos imponentes marcados por seus arcos em sequência e paredes de grande espessura, característica da arquitetura românica, atualmente encontra-se descaracterizado e “mascarado” por elementos construtivos que o fazem passar despercebido.

Consta historicamente que o edifício foi construído pelo doador do terreno logo após a fundação da Cidade, Sr. Jacob Manoel de Almendra Junior (1796-1859), Tenente-Coronel Comandante do 1º Batalhão de Infantaria.

Segundo a FUNDAC, com o passar dos anos sofreu várias intervenções, desprovidas de preocupações estéticas em preservar o seu estilo arquitetônico original, estando assim bastante descaracterizado. Permanece, entretanto, como um grande centro de comercialização dos mais variados produtos oriundos do território piauiense e de outras regiões brasileiras.

A edificação compreende atualmente uma quadra inteira, em parte com dois pavimentos, e abriga ainda em seu entorno pela Rua João Cabral um oceano de barracas dos mais variados produtos, notadamente alimentícios. Tem sua frente voltada para a Rua Areolino de Abreu; os fundos para a Rua Lisandro Nogueira (ex Rua da Glória), o lado direito para a Rua Riachuelo e o lado esquerdo para a Rua João Cabral. Inúmeras construções nas quadras vizinhas do mercado também orbitam em função de sua atratividade histórica.

Em virtude do espaço físico, o Mercado Central não pode mais se expandir, contrastando com o desenvolvimento e crescimento da cidade. Em consequência, sua expansão vem sendo feita através de barracas que se espalham em torno do velho mercado e no prolongamento das ruas que lhe dão acesso (FUNDAC).

Houve uma série de ampliações e ainda construção de anexos, provocando descaracterizações arquitetônicas ao longo das décadas, e hoje o Mercado abriga, além das atividades usuais, lanchonetes, restaurantes, sapatarias, lojas de artesanato, farmácias, lojas de redes e confecções, além de incontáveis barracas dos mais variados produtos no entorno de sua quadra.