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5.4.20

"o tédio dos dias", Elias Paz e Silva


o tédio dos dias
os diasdetédio

                       a cidade profana
                       docemente santificada

                       as canções de improviso
                       andorinhas andarilhas
                       sobre a cúpula do tempo

                       a poesia sem sentido
                       dos últimos dias primeiros

os diasdetédio
o tédio dos dias

                       o dar de ombros
                       aos anúncios de grandes
                       tribulações e tremores

                       a dor compartida
                       na dor do irmão
                       vida dividida sem o pão

                       a fala do vento
                       na árvore velha
                       murmúrio de farta esperança

o tédio dos dias
os diasdetédio

                       o calor da terra
                       aquecendo os corpos inertes
                       evaporação de sopros e sombras

                       a visão do sonho
                       o sol arcoirizado
                       o campanário da igreja
                     
                       o simbolismo das coisas
                       rastros de astros
                       céu nuclear de bombas e bombons


Elias Paz e Silva
Poemário II
Teresina, 1991

22.1.16

FAZIA SOL... NO RIO NÓS DOIS...




Naquele dia lá no rio nós dois
quais dois delfins espadanando nágua,
brincávamos com puerícia louca,
sorríamos sem meditar em mágoas.
Eu via as curvas brancas dos teus seios
de líquidas pérolas matizadas...
Ai! vibraram em mim tamanhos desejos,
meu corpo ardia - volúpias alarmadas!
O sol tão brando "curiava" ao longe
perlongando as curvas do maiô escasso
com a sutileza dos intrusos raios...
Nós dois sorríamos um sorriso lasso
esquivantemente a devolver carinhos...
e o sol ao longe olhando com olhar devasso!



Humberto Guimarães
em JUVENÍLIAS

18.1.16

SOL DE MINHA TERRA




Trago n'alma o sol de minha terra
a luz maior, claridade em mim
no som do Parnaíba que se encerra
o trilhar de um caminhar sem fim

carrego, imune, a força mais pura
a saudade do amor eternal
traçada nas glórias da loucura
do meu sonho alegre e jovial

trago, enfim, a lembrança das ruas
os quintais da infância e as luas
que no Poti vivem em transe

e sufoco as tormentas cruas
que fizeram as dores nuas
da dor de ti que me confrange.



Afonso Lima
Palmas/TO, julho de 2009
em A CIDADE EM CHAMAS: poema trágico de um crime impune
Teresina: Multiservice, 2010

11.12.15

"As árvores da Rua Álvaro Mendes"




As árvores da Rua Álvaro Mendes
                não existem para o aprendizado dos hábitos
Na calçada quebrada em que caminho
                seus troncos engrossam, alheios às pessoas
Há profundas rachaduras nas cascas dos caules
Olhando aqui, ou tocando nelas, é possível
                conhecer suas rugas – as ruas do tempo vivido
O sol não tem ouvidos para reclamações.
Essa parte da cidade de brasa e sombra
                melhora o pensamento em modificação:
                aquele encanto claro de palavra nova
                transmitindo mais surpresas que entendimentos
Passei a ter resistência aos poluentes urbanos
e o impulso extremo de absorver tudo



Thiago E
poema enviado pelo autor

2.9.14

TERESINA


                                para Luis Romero


Procuro meu rosto
desgarrado em tuas vias;
caminho sob os oitis
da Praça da Bandeira
(que me não viram chegar
numa manhã de domingo)
com a solidão no calcanhar.

(Ali, ao sol de novembro
em que assinei sem saber
o preço da poesia).

Procuro de porta
em porta
(onde vendi sonho a crédito)
tuas ínfimas impressões
no intraduzível ontem.

Procuro por toda a parte,
no aroma dos quintais,
no desenredo das ruas,
nos espelhos desarmados,
essa íntima refulgência
com que forjaste meu caule.



Salgado Maranhão