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29.7.23

O grito e o rio, por William Melo Soares




Não há nada de novo
na ordem do dia:
nem um sinal de alegria
nem um cheiro de esperança.


o grito de gol é de alegria
o ar que se respira é venenoso
a noite traga os bêbados
e as putas da paissandu


e ao mesmo tempo
o rio está morrendo
o rio está morrendo
o rio está morrendo
lentamente como o homem
com o cansaço do seu peso
na trincheira do seu medo


E não há nada de novo
na ordem do dia
nem um sinal de alegria
(por motivo de força maior)
nem um cheiro de esperança.



William Melo Soares
O rio: antologia poética
Teresina: Edições Corisco, 1980


15.10.18

BR-O-BRÓS, William Melo Soares


rio morno
assoreado
lâmina
d'água
à flor da areia

jorram
da boca do esgoto
as impurezas
das gentes

o sol
nos br-o-brós
é um dragão
inclemente


William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

10.4.16

VOLLEY BAR, William Melo Soares




volley bar
rock e pelada
coroas do parnaíba

nêgo valti
dava o mote
piau frito
e outras coisas

o pôr do sol
o sorriso
menina flor da paisagem
Piedade oferecia
rabo de tatu gostoso

volley bar
sorriso e farra
vida efêmera
eterna areia

volley bar
sorriso e farra
vida efêmera
eterna areia

volley bar
gente bonita
lâmina d'água
à flor da areia



William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

9.4.16

TERESINA, ANOS 70, William Melo Soares


Quintais de plantas e pássaros
menino chupando o dedo
ou picolé Amazonas
Arnaldo histórias em quadrinhos
humor sangrento no traço
da rua do Barrocão

Davi Aguiar os passos
dos malucos da cidade:
sexo, drogas e rock'n roll.

Domingo dia de clássico
rivengo no Lindolfinho
Carlos Said comentando
para o bom entendedor
pastel da Maria Divina
quem comeu nunca morreu

Seu Cornélio pão de queijo
arretado de sabor
a turma da palmeirinha
baixa da égua Sambão
coroas do Parnaíba
piau frito e pedaleiros
Dom Avelar Oração
Por um Dia feliz.


William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

1.4.16

DENTRO DA NOITE VADIA, William Melo Soares


                                     para Netinho da Flauta


nos pés o chão das estrelas
nos olhos o brilho da vida
uns paparicos em Carminha
fina flor da melodia

vem de longe
um som de flauta
dentro da noite vadia

livre feito um passarinho
um passageiro do bem
viajou ao som da flauta
rumo aos confins do além



William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015





CLIMÉRIO, William Melo Soares




o tempo vai
tangendo amigos
pras lonjuras

leio um poema
angicalíssimo
de Climério

um rio morno
ribeirinha
minha infância

essa saudade
luz acesa
noite insone



William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

ENCONTRO DAS ÁGUAS, William Melo Soares




das ribanceiras
avisto as cores
te enfeitando
da aurora ao pôr do sol

rios fluindo
orlas douradas
do Poty ao litoral

navego em verso
e escuto a música alegre
das águas



William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

24.10.13

RIO POTY, William Melo Soares




Meninos passarinham
em arvoredos
mansas águas do Poty
banham meu corpo
O poeta
passa o tempo
e a vida a limpo



William Melo Soares
em Presença da literatura piauiense 
Luiz Romero Lima (org.)
Teresina: 2003

RUA DOS MENINOS, William Melo Soares




Ventos de maio
Pipas no ar
cerol na linha da emoção.
Deixe o menino correr
o risco de ser feliz.



William Melo Soares
em Presença da literatura piauiense 
Luiz Romero Lima (org.)
Teresina: 2003

TERESINA, William Melo Soares




Os meninos da lucaia
cedo aprendiam a nadar
quem não engolia piaba
não levava boa sorte
se perdia nos remansos se abraçava com a morte

Os meninos da lucaia, baixa do chicão, cajueiro
eram malinos, afoitos, aventureiros
brincavam de pega-pega
na correnteza do rio
no movimento das águas
heróis errantes
o coração feito de pássaro
voando no horizonte



William Melo Soares
em Congresso das Águas
Teresina, 1998

RUA ABAIXO LUA ACIMA, William Melo Soares




Caso você me siga
rua abaixo
lua acima
percorra toda a cidade
entre becos e esquinas
procure um rastro de estrela
no céu de Teresina

Caso você siga
rio abaixo
lua acima
passe pelo cais do rio
de um vapor que evaporou
pro remanso de outras águas
deixando ondas no peito
do Mano Velho barqueiro

Caso você siga
lua acima
rio abaixo
no movimento das barcas
me envolva num abraço
só não toque no meu manto
de solidão e cansaço



William Melo Soares
em Presença da Literatura Piauiense 
Luiz Romero Lima (org.)
Teresina: 2003

CANELEIRO, William Melo Soares




Cheiro de frutas
passarinho nos quintais
flor da chapada
nos confins do coração.
Eu finco aqui
minha raiz de caneleiro.



William Melo Soares
em Presença da Literatura Piauiense 
Luiz Romero Lima (org.)
Teresina: 2003

MADRUGADA ADENTRO, William Melo Soares




E você chega assim
desse jeito
abrindo veredas no meu coração

- eu continuo andando nas ruas
com meus passos lentos
madrugada adentro
meu olhar atento
arrastando alguns anos de solidão
Um gole aqui
um gole ali
um poema brilhando no peito
E você chega assim
desse jeito
abrindo
invadindo
acendendo uma chama no meu coração



William Melo Soares
em Anos 70 - Por que essa lâmina nas palavras?
José Pereira Bezerra 
Teresina: 1993

RIO POTY II, William Melo Soares




desce o rio
margeando
o plantio das vazantes
alimentando 
em seu leito
essa gente ribeirinha
segue o rio
vida aflora
pela nadança 
dos peixes



William Melo Soares
em Estado de Garça 
Teresina: 2011

William Melo Soares - síntese biográfica




William Melo Soares [1953] nasceu em Alto Longá - PI. Poeta. Tem várias composições gravadas. Foi coordenador do movimento cultural Livro nas Escolas. É conhecido como nosso "poetinha". Um trabalhador e divulgador incansável da poesia. Bibliografia: Ponta de rua (obra coletiva, 1978); Roendo os ossos do ofício (1987); Com licença da palavra (1986); Topada (1992); Passo a pássaro (co-autoria com Graça Vilhena, 1992); Congresso das águas (1998). Foi incluído no livro: A poesia piauiense do sec. XX (org. Assis Brasil - 1995).