Mostrando postagens com marcador elmar carvalho. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador elmar carvalho. Mostrar todas as postagens

18.10.13

3 POSTAIS DE TERESINA




Postal I


Na Paissandu e adjacências bêbados passeiam
equilibrados sobre a corda bamba dos pés.
Velhas meretrizes sem freguesia
conversam e cospem na calçada.
Nas noites serenas de serenatas
as luzes mortiças dos postes
espiam de pálpebras cansadas
os amores camuflados clandestinos (in)decentes.
Os amores puros, sem rotas e rótulos.
A lua, velha safada, espreita a intimidade
das alcovas dos casais.



Postal II


No Morro do Querosene

- sem quero, sem querosene e sem gás -
a miséria mora em cada casa
sem água e se luz.
Um bolero ou tango
                          tange o tédio.
De repente, um tiro na noite.
Assassinato ou suicídio?
Último ato: cai o pano de silêncio
sobre o silêncio do morto.



Postal III

O Morro do Urubu
se muito foi terá sido
morro do urubu chumbado, morro do
urubu chagado, sifilítico e faminto.
O Morro do Urubu
hoje é Morro da Esperança.
Esperança de quem?
Daqueles que nada esperam
em sua ab / só / luta miséria.
Morro da Esperança????????
Morro dos bastardos da vida,
dos pobres, dos desvalidos.
Morro da morte matada,
morro da morte morrida,
morro da morte em vida:
Morro da (des) Esperança.



em Poemágico, A Nova Alquimia
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985

CIDADE GRANDE




Dando (m)urros
no vazio
por causa da dor
              da doidice
da vida
da vivida mediocridade
entre ruas
       nuas sujas tristes
as ladras
   ladram como cães
e os cães
gemem como homens.
Na (c)idade
do lobo
o lobo-homem
é o lobisomem
           do homem.
Tudo é
ferro feio (en)ferrujado
ferindo feridas
já abertas.
Na cidade
na cilada
das suas ruas
surgem (g)ritos
lavados em sangue
lavrados a ferro e fogo.
Soltam berros
soltam (b)urros
prendem os b'rros
que incomodam.
Na cidade grande
onde não existe
pôr-de-sol
o homem gira e pira
sem (gira)sol.



em Poemágico, A Nova Alquimia
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985

FLAGRANTES DE TERESINA




I


À meia-noite
percorria a praça.
A noite era silente e fria
e nenhuma estrela luzia...
O manto escuro tudo
envolvia e ninguém mais existia.
Apenas o olhar cego
do Conselheiro, ao longe,
indiferente, me via.



II


Em criança
a carranca do Barão
em seu assombro me fascinava.
Seu bigode recurvo espetava o ar
a ceifar a brisa como às nuvens
e ao céu o alfange lunar.
Um besouro inoportuno
bolinou o bigode do Barão
e o bigode de bronze
imperceptivelmente se moveu.



em Poemágico, A Nova Alquimia
Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985

Elmar Carvalho - síntese biográfica




José Elmar de Mélo Carvalho09/04/56 ] nasceu em Campo Maior – PI. Poeta, cronista, contista e crítico literário. Juiz de Direito. Bacharel em Direito e em Administração de Empresas. Presidiu o Diretório Acadêmico “3 de Março”, a União Brasileira de Escritores do Piauí e o Conselho Editorial da Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Foi membro do Conselho Editorial da Universidade Federal do Piauí. Bibliografia: “A rosa dos ventos gerais”, “Cromos de Campo Maior”, “Noturno de Oeiras” e “Sete Cidades – roteiro de um passeio poético e sentimental”, entre outros. Participou de várias coletâneas e antologias.