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12.8.23

42, por Rubervam Du Nascimento




que importa
além do recado
deixado na porta

da roupa espetada
no pé de angico

parto nu para o poema
beijo a folha de papel
em branco

discuto com ele 
o tamanho da palavra

invento outro tempo
e ele me inventa



Em Marco Lusbel Desce ao Inferno,
1º Lugar no 1º Concurso Blocos de Poesia
Rio de Janeiro, RJ (1998)


20.3.21

12, por Rubervam Du Nascimento



deu no jornal
urbanistas constatam
a mistura de concentração de renda
baixos salários
desemprego
e falta de boas escolas
criou guetos de classe média e alta
shopping center
condomínios de luxo

bem que tem
lojas CEM
pra vender aos mortos

ATMOSFERA BRASIL:
dia ensolarado em todo o país



Rubervam Du Nascimento,
Em Marco Lusbel Desce ao Inferno,
1º Lugar no 1º Concurso Blocos de Poesia
Rio de Janeiro, RJ (1998)


15.4.20

20, por Rubervam Du Nascimento



na rua aberta do mundo
correm carros selvagens

faz barulho o operário morto

comércio amplia o movimento

passa troco
passa nota

passa restaurante
passa fio de cabelo na sopa

passa-montanhas nos rostos

passa bananeira

assustado espião na janela



Rubervam Du Nascimento
Em Marco Lusbel Desce ao Inferno,
1º Lugar no 1º Concurso Blocos de Poesia
Rio de Janeiro, RJ (1998)


9.4.20

48, por Rubervam Du Nascimento



é leve a bagagem
que a noite leva
para o encontro com o dia?

pesado ofício
carregar madrugadas



Em Marco Lusbel Desce ao Inferno,
1º Lugar no 1º Concurso Blocos de Poesia
Rio de Janeiro, RJ (1998)


8.4.20

9, por Rubervam Du Nascimento



Pintar e resumir, num quase ponto
Do mais pequeno olho, mil Cidades,

muro humo nume lume
janela acesa na noite

unha cravada na pedra
da antiga fortaleza



Rubervam Du Nascimento,
Em Marco Lusbel Desce ao Inferno,
1º Lugar no 1º Concurso Blocos de Poesia
Rio de Janeiro, RJ (1998)


31.3.16

ESTUDO DO RIO, por Rubervam Du Nascimento



Saiu outra palavra
pra completar a lei
sobre a navegação
pelo rio seco
que exige do porto
a segurança dos produtos
transportados
ou chegados
nunca permanecidos

uma outra palavra
sobre a quantidade do produto
o peso
sobre a explicação dos problemas
de divisas
da força
da moeda
da destinação
em circuito fechado

a lei quase que ninguém conhece
mas existe
quando os navegantes
também são transportados

a palavra não faz menção alguma
ao corpo
nem à cabeça



Rubervam Du Nascimento
em O RIO - Antologia Poética
Edições Corisco, 1980


28.7.15

PESCARIA ÀS SEIS DA TARDE NO BALÃO DA IGREJA DE SÃO BENEDITO, por Rubervam Du Nascimento



Um rio nos separa na pista de danças luzentes e procissões de veículos rio não de águas de carros. Na cidade de Teresina, tem um igreja cuja frente, fica voltada para uma avenida, que juntando-se com outras pequenas ruas no mesmo perímetro, vai dar no rio Parnaíba, - o maior rio da bacia hidrográfica da região Norte do Brasil, responsável pela separação geográfica entre os estados do Maranhão e do Piauí, e, o fundo, vai dar para outra artéria, considerada a mais elegante e luxuosa da nossa capital, - a Avenida Frei Serafim. Nesse ponto, - tanto pela frente como pelo fundo da igreja, - outrora, o "trottoir" (paqueração, pescaria) de proxenetas, gays, lésbicas, drag queens, travestis e principalmente prostitutas era intenso. A procissão de veículos motorizados era maior que a procissão de andores, mas dentro desses veículos estavam no volante - obviamente motoristas, - que não estavam ali para pescar luzes de holofotes de carro nem muito menos  pistas de rolamentos de veículos, eles estavam ali para pescar gente de rostos, carne, osso e espinha.



Rubervam Du Nascimento
em Guia Turístico Afro-cultural da Região Meio-Norte; Piauí e Maranhão
de Antônio Julio Lopes Caribé


22.10.13

HOMENS DE BRONZE, por Rubervam Du Nascimento




por que esse homem
vestido de bronze
na avenida central
em pleno meio-dia
não reclama de nada
sequer do calor do sol

o que ele olha
algum esqueleto no céu
não sabe ao certo
cegou antes
ao aceitar o posto
de vigia da noite

não me pergunte
o que eu acho
dos donos desta cidade
vestidos de bronze
que não mais se movem
nem para fugir do sol



Rubervam Du Nascimento
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão


O GUARDADOR DE PORTÕES, por Rubervam Du Nascimento



Numa cidade qualquer
alguém vestindo preto segura os portões
uma história sem nenhum pavor
se uma cidade ainda tem portões

Durante a noite alguém voa por cima das igrejas velhas
por cima das casas velhas
por cima das cadeias velhas
por cima das escolas velhas
por cima dos cabarés velhos
por cima de tudo

                Tudo é velho
como uma sombra escondendo a manhã

apenas um grito novo
se resguarda

e solta a porta das palavras.



Rubervam Du Nascimento
Antologia poética das cidades brasileiras
Christina Oiticica (coordenadora)
Shogun editora e arte LTDA.: Rio de Janeiro, 1986


P2, por Rubervam Du Nascimento


Há uma praça
no centro da cidade

que fica acesa
quando engole a tarde

reparte seus fantasmas
com quem passa

namora em silêncio
os segredos do tempo

sobe no coreto
ouve a retreta

dorme no colo
em "P2" (livro sobre a Praça Pedro II)
Teresina: Livraria e Editora Corisco Ltda, 2001


RASTROS #3, por Rubervam Du Nascimento



manhã raivosa no jornal
menino filho da rua
degolou outro menino
por causa de uma bola

silêncio na cidade
égua cega no cio
sem sair do sobrado
venceu jogo no grito

não tem jeito a morte
continua com a face fria
grave mal o abandono
que aflige nossos dias



Rubervam Du Nascimento
em Os cavalos de Dom Ruffato
Recife: Fundação de cultura da cidade do Recife, 2005


Rubervam Du Nascimento - síntese biográfica





Rubervam Maciel do Nascimento  (31/07/1954) nasceu em São Luís - MA. Formado em direito, poeta. Tem publicado: A profissão dos peixes; Os cavalos de Dom Rufatto; entre outros. Fotografia: Rubervam, em sua performance Corpo a corpo – A profissão dos peixesno Alpha, em 18.7.1993.