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9.4.16

TERESINA, ANOS 70, William Melo Soares


Quintais de plantas e pássaros
menino chupando o dedo
ou picolé Amazonas
Arnaldo histórias em quadrinhos
humor sangrento no traço
da rua do Barrocão

Davi Aguiar os passos
dos malucos da cidade:
sexo, drogas e rock'n roll.

Domingo dia de clássico
rivengo no Lindolfinho
Carlos Said comentando
para o bom entendedor
pastel da Maria Divina
quem comeu nunca morreu

Seu Cornélio pão de queijo
arretado de sabor
a turma da palmeirinha
baixa da égua Sambão
coroas do Parnaíba
piau frito e pedaleiros
Dom Avelar Oração
Por um Dia feliz.


William Melo Soares
em Nadança dos Peixes - Antologia Provisória
Teresina: Bienal, 2015

4.12.11

A RUA, por Torquato Neto




Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba

De uma rua de uma rua
Eu lembro agora
Que o tempo ninguém mais
Ninguém mais canta
Muito embora de cirandas
(oi, de cirandas)
E de meninos correndo
Atrás de bandas

Atrás de bandas que passavam
Como o rio Parnaíba
Rio manso
Passava no fim da rua
E molhava seus lajedos
Onde a noite refletia
O brilho manso
O tempo claro da lua

Ê São João ê Pacatuba
Ê rua do Barrocão
Ê Parnaíba passando
Separando a minha rua
Das outras, do Maranhão
De longe pensando nela
Meu coração de menino
Bate forte como um sino
Que anuncia procissão

Ê minha rua meu povo
Ê gente que mal nasceu
Das Dores que morreu cedo
Luzia que se perdeu
Macapreto Zê Velhinho
Esse menino crescido
Que tem o peito ferido
Anda vivo, não morreu
Ê Pacatuba
Meu tempo de brincar
Já foi-se embora
Ê Parnaíba
Passando pela rua
Até agora
Agora por aqui estou
Com vontade
E eu volto pra matar
Esta saudade
Ê São João, é, Pacatuba
Ê rua do Barrocão.



Torquato Neto
em Torquatália, do lado de dentro
Paulo Roberto Pires (org.)
Rio de Janeiro: Rocco, 2004