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23.1.16

DEFINIÇÃO, por Torquato Neto


                                            para nacif elias


Teresina:
ausência
de uma presença...
presença
da mesma ausência
só memória na memória
sempre viva.
só saudade... só distância
só vontade.
...e um ardor medonho no peito.


                                            (Rio, 23/08/62)


Torquato Neto
em TERESINA: Um Olhar Poético
Teresina: FCMC, 2010
Organização de Salgado Maranhão


22.1.16

O TERROR DA VERMELHA, de Torquato Neto




Parte 1:




Parte 2:




Parte 3:





Direção: Torquato Neto
Filmado em Teresina-PI, em 1972
Câmera: Arnaldo, Albuquerque
Edição em Super 8: Carlos Galvão

Elenco: Edmar Oliveira, Conceição Galvão, Geraldo Cabeludo, Claudete Dias, Torquato Neto, Etim, Durvalino CoutoPaulo José Cunha, Herondina, Edmilson, Carlos Galvão, Xico Ferreira, Arnaldo Albuquerque e os pais de Torquato, Heli e Salomé.


(...)


É o caso de sua única produção como diretor, "O Terror da Vermelha'', que veio a ser exibida publicamente pela primeira vez em 2001, 28 anos após sua morte, na mostra "Marginalia 70 - O Experimentalismo no Super-8'', evento que fez parte do projeto "Anos 70; Trajetórias'' do Itaú Cultural sob a curadoria do professor Rubens Machado Jr. O valor desta exibição está no fato de que assim se resgata um documento de um período singular da recente produção cultural do país. Seu significado é muito maior do que o que emana da aura romântica desprendida de seu suicídio. O Terror da Vermelha é o registro incontestável da verve e do domínio por Torquato Neto dos fundamentos da linguagem cinematográfica, um de seus lados ocultos que ficou adormecido na virtualidade do seu mito marginal. Até então o que havia era apenas a referência ao filme em dois textos poéticos que constam da segunda edição dos Últimos Dias de Paupéria (p.339-346), no qual Torquato fixa uma espécie de roteiro que mais tarde servirá de base para a montagem feita por Carlos Galvão em 1973. Torquato nunca chegou a ver seu filme montado. A montagem que foi exibida na mostra em 2001 foi feita por Ana Maria Duarte, que foi casada com o poeta. Carlos Galvão também montou uma outra versão, com algumas cenas que não constam da montagem de Ana Maria Duarte e com uma trilha sonora diferente. O resultado é, em termos gerais, praticamente o mesmo, contudo na versão de Galvão as imagens onde aparecem as "palavras-cenário'' (VIR, VER, OU, AQUI e ALI) estão mais nítidas. Na primeira versão, montada dor Ana Maria Duarte e que foi exibida publicamente em 2001 a trilha sonora oscila de uma atmosfera tropicalista para o suspense que precede os confrontos nos filmes de western.

O Terror da Vermelha foi rodado em 1972, quando Torquato Neto voltou para Teresina a fim de se internar para uma desintoxicação. Neste ponto de sua trajetória todas as rupturas com os companheiros tropicalistas já tinham se dado e as crises eram constantes. Do convívio com um então grupo de estudantes que se articulava em torno do jornal Gramma, do qual participava Carlos Galvão, nasceu o elenco da única produção que teve Torquato Neto na direção.


"(...) fui a Teresina pelo início de
junho (sanatário (sic) meduna), entrei
em contato com os rapazes que
haviam feito o jornal gramma e
Partimos para um superoito de metragem média que resultou neste
O TERROR DA VERMELHA (ou qual outro nome escolherem).''
(TORQUATO NETO. Úlimos Dias de Paupéria, página 339)



Trecho do artigo "O Terror da Vermelha: estética da agressão e rigor formal de Torquato Neto no cinema" de Silvio Ricardo Demétrio, da Universidade de São Paulo



21.11.15

ESTILHAÇOS: ENTRE O MARGINAL E O EXPERIMENTAL







O vídeo-documentário “Estilhaços: entre o Marginal e o Experimental” tem como objetivo geral relatar a produção do Cinema Experimental, posteriormente chamado de Cinema Marginal, feita com a câmera Super 8, em Teresina, no início dos anos de 1970. A ideia de fazer cinema superoitista surgiu de um grupo formado por oito jovens que eram adeptos à cultura marginal. Como objetivo específico, buscou-se retratar o movimento através da apreciação de três filmes que fizeram parte do ciclo de produção do grupo. A narrativa é construída por meio dos depoimentos de alguns dos produtores, diretores, atores e roteiristas dos filmes da época, através de entrevistas em profundidade realizadas com base na pesquisa documental e fílmica. Ao final do trabalho foi possível retratar o sentido de Cinema Marginal em formato audiovisual, através da junção da significância do movimento cinematográfico dada pelos produtores e pela análise geral de um historiador pesquisador da área.

Sob a influência das produções cinematográficas nacionais e com uma experiência junto aos cineastas nacionais como Ivan Cardoso e Glauber Rocha, Torquato Neto veio à Teresina com a ideia de fazer cinema com o recurso que tinha: a câmera Super 8. O objeto privativo da Kodak era de fácil manuseio e de custo baixo em relação às outras câmeras, porém, ainda era pouco acessível e nasceu com o objetivo de fazer pequenos registros (cada rolo de filme Super 8 tinha apenas 3 minutos) de eventos familiares, mas com o advento do experimentalismo cinematográfico foi utilizado para fazer filmes um pouco mais longos na intenção de expressar as nuances juvenis daquela época. Aos seus 28 anos, Torquato Neto se uniu a outros jovens piauienses de classe média como Edmar Oliveira, Arnaldo Albuquerque, Durvalino Couto Filho, Paulo José Cunha, Carlos Galvão, Francisco Pereira e Noronha Filho para fazer cinema com a Super 8 no Piauí.



Direção e roteiro: Patrícia Kelly
Produção: Morgana Castro e Alison Santos 
Imagens: Alison Santos, Morgana Castro e Patrícia Kelly 
Edição: Dionísio Costa


4.12.11

A RUA, por Torquato Neto




Toda rua tem seu curso
Tem seu leito de água clara
Por onde passa a memória
Lembrando histórias de um tempo
Que não acaba

De uma rua de uma rua
Eu lembro agora
Que o tempo ninguém mais
Ninguém mais canta
Muito embora de cirandas
(oi, de cirandas)
E de meninos correndo
Atrás de bandas

Atrás de bandas que passavam
Como o rio Parnaíba
Rio manso
Passava no fim da rua
E molhava seus lajedos
Onde a noite refletia
O brilho manso
O tempo claro da lua

Ê São João ê Pacatuba
Ê rua do Barrocão
Ê Parnaíba passando
Separando a minha rua
Das outras, do Maranhão
De longe pensando nela
Meu coração de menino
Bate forte como um sino
Que anuncia procissão

Ê minha rua meu povo
Ê gente que mal nasceu
Das Dores que morreu cedo
Luzia que se perdeu
Macapreto Zê Velhinho
Esse menino crescido
Que tem o peito ferido
Anda vivo, não morreu
Ê Pacatuba
Meu tempo de brincar
Já foi-se embora
Ê Parnaíba
Passando pela rua
Até agora
Agora por aqui estou
Com vontade
E eu volto pra matar
Esta saudade
Ê São João, é, Pacatuba
Ê rua do Barrocão.



Torquato Neto
em Torquatália, do lado de dentro
Paulo Roberto Pires (org.)
Rio de Janeiro: Rocco, 2004



3.11.11

VIR VER OU VIR, por Torquato Neto




a coroa do rio poti em teresina lá no piauí. areia palmeiras de babaçu e
céu e água e muito longe, depois, um caso de amor um casal uns e outros.
procuro para todos os lados - localizo e reconheço , meu chicote na mão e
os outros: a hora da novela o terror da vermelha
o problema sem solução a quadratura do círculo o demônio a águia o núme-
ro do mistério dos elementos os quintais a minha terra é a minha vida!
o faroesteiro da cidade verde
estás doido, então? (sousândrade)
ela me vê e corre, praça joão luís ferreira
esfaqueada num jardim
estudante encontrado morto

ando pelas ruas tudo de repente é novo para mim. a grama. o meu caso de
amor, que persigo, êsses meninos me matam na praça do liceu. conversa com
gilberto gil
e recomeço a
vir ver ou
aqui onde herondina faz o show
na estação da estrada de ferro teresina-são luís um dia de manhã
ali
onde etim é sangrado



TRISTERESINA



uma porta aberta semiaberta penumbra retratos e retoques
eis tudo. observei longamente, entrei saí e novamente eu volto enquanto
saio, uma vez feriado de morte e me salvei
o primeiro filme - todos cantam sua terra
também vou cantar a minha



VIAGEM/LINGUA/VIALINGUAGEM



um documento secreto
enquanto a feiticeira não me vê
e eu pareço um louco pela rua e um dia eu encontrei um cara muito legal
que eu me amarrei e nós ficamos muito amigos eu o via o dia inteiro e a
poucos conheci tão bem.

VER

e deu-se que um dia eu o matei, por merecimento.
sou um homem desesperado andando à margem do rio parnaíba.

BOIJARDIM DA NOITE

êste jardim é guardado pelo barão. um comercial da pitu, hommage, à sa-
úde de luiz otávio.
o médioc e o monstro. hospital getúlio vargas. morte no jardim. paulo josé, meu primo, estudante de comunicação em brasília, morre segurando bravamente seu rolling stone da semana

sol a pino e conceição.

VIR
correndo sol a pino pela avenida

T E R E S I N A

zona tórrida musa advir

uma ponta de filme - calças amarelas
quarto número seis sete cidades



Torquato Neto
em Gramma, nº 2
Teresina, 1972



26.10.11

O TERROR DA VERMELHA, Torquato Neto




a) - um filme é feito de dois planos:
a b c: um plano depois do outro
depois do outro depois do outro
depois do outro - planos. não é
feito de cenas, rapaziada - cineclube.

1 plano é 1 plano, porquanto
montagem é, ante sempre
montagem é, antesempre, uma análise
de planos. e mais soma/divisão
multiplicação/subtração. certo disso.
dziga vertov, citado por godard em
inglês: ...montar um filme antes
da filmagem, montar um filme durante
a filmagem, montar um filme depois
da filmagem.

b) - fotografar ontem, guardar
(SAUSÂDRADE)
fui a teresina pelo início de
junho (sanatório meduna), entrei
em contato com os rapazes que
haviam feito o jornal gramma e
partimos para um superoito de
metragem média que resultou neste
O TERROR DA VERMELHA (ou
qual outro nome escolherem). o
material filmado percorria
aceidentalmente acidentalmente
um fio de acontecimento, matéria
de memória de uma sópessoa em
equipe percorrendo roteiro de
lugares, quintais, paisagens-
plano geral
paisagens-planos-gerai,
distância. a cidade transformada
retornada transformada em
EM TRANSFORMAÇÃO. o jôgo
(from navilouca) VIR/VER/OU/VIR
etc (AQUI/ALI), títulos subtítulos
versos pontuação: TEXTO-LEGENDA,
ora ocupando totalmente o
fotograma ora
precisamente ilustrando-o
"sur-place", como
palavra-cenário (luiz otávio), e
também (galvão em OU),
palavracontradestaque, como
destaque (waly) na dança da
herondina. nove cassetes filmados,
filme ektachrome kodak.

c) - em seguida à versificação de
variadas férteis possibilidades
de edição (montagem), optou-se por
stanley donen. não há explicações
recomendáveis claras para a
escolha: pereceu-nos simplesmente
a mais NATURAL, CONCRETA, no
pensamento da transação com imagem
(e som): em movimento como forma de
narração concreta precisa necessária,
satisfatória. idade eletrõnica. mais
evidentemente, o
tempo/contratempo/contraoambo,
produção execução e a guerra,
(ONE PLUS ONE), godard, o filme das
famílias, televisão, cinemascope,
escambal, o diabo a 4.

d) - edmar (oliveira) o superstar
principal. mais: conceição, herondina
claudette, juçara, adélia maria,
dona salomé, livramento, etim,
paulo josé, durvalino filho, edmilson,
pereira, geraldo cabeludo, dr. heli,
galvão, joão clímaco d'almeida e
transeuntes. além de arnaldo.
arnaldo fez a maior grande parte da
câmera.


[1972]



Torquato Neto
Gramma, número 2
Teresina, 1972


25.10.11

Torquato Neto - síntese biográfica







Torquato Pereira de Araújo Neto (Teresina PI, 1944 - Rio de Janeiro RJ, 1972). Cursou Jornalismo no Rio de Janeiro, por volta de 1966, mas não chegou a concluir a faculdade. Nos anos seguintes compôs letras musicadas por Gilberto Gil  ("Geléia Geral", "Louvação"), Caetano Veloso ("Deus Vos Salve a Casa Santa", "Ai de Mim", "Copacabana", "Mamãe, Coragem") e Edu Lobo ("Lua Nova", "Pra Dizer Adeus"). Entre 1970 e 1972 atuou nos filmes Nosferatu no Brasil e A Múmia Volta a Atacar, de Ivan Cardoso, e Helô e Dirce, de Luiz Otávio Pimentel. No período também criou e redigiu a coluna Geléia Geral no jornal carioca Última Hora. Em 1973 ocorreu a publicação póstuma de seu livro de poesia Os Últimos Dias de Paupéria, organizado por Ana Maria S. de Coraújo Duarte e Waly Salomão. Três anos depois, foram incluídos alguns de seus poemas na antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda em 1976. Em 1997 foram publicados quatro de seus poemas na antologia bilíngüe Nothing the Sun Could Not Explain, organizada por Michael Palmer, Régis Bonvicino e Nelson Ascher. Torquato Neto foi um dos compositores mais inovadores da canção popular dos anos de 1970.